Pouco carismático e rebelde a ponto de não aceitar regras nem limites, o ex-surfista Craig Venter abandonou as praias da Califórnia para se tornar um dos cientistas mais polêmicos dos últimos tempos. Há cinco anos, ele foi responsável por acelerar o trabalho de vários institutos de pesquisa genética ao redor do mundo. E transformar em maratona comercial um dos marcos científicos mais importantes do século: o mapeamento do livro da vida, a receita com os três bilhões de letras que compõem o genoma humano.

Acostumado a polêmicas, Venter agora percorre os oceanos em uma expedição para decifrar os genes dos micróbios marinhos. Batizada de Sorcerer II, que significa mago ou feiticeiro em inglês, a experiência de US$ 9 milhões busca entender a composição e a função ecológica dos micróbios. E, de quebra, revelar o complexo processo químico e biológico pelo qual eles convertem a luz solar em energia. Todos os resultados, promete Venter, serão colocados em domínio público.

Só no mar Sargasso, nas Bermudas, onde a viagem oceanográfica começou,
foram descobertos 1,3 milhão de genes e pelo menos 1.800 novas espécies. A expedição passou por Canadá, Caribe, Pananá, Austrália e Galápagos, a ilha onde
o britânico Charles Darwin baseou parte de seus estudos para chegar à teoria da evolução das espécies.

No Brasil, foram frustrados seus planos de analisar os micróbios que o rio Amazonas despeja no oceano Atlântico. “Isso é ganância do governo, que quer ser dono de todas as informações sobre os vírus e as bactérias que vivem em suas águas”, reclama Venter. “Se Darwin estivesse vivo, não poderia fazer seu trabalho.” É bom lembrar que Venter surpreendeu a todos ao incluir seu próprio DNA e o de seu cachorro para serem analisados pelos cientistas que seqüenciaram os genes humanos e caninos.

O ar das metrópoles é seu próximo objeto de pesquisa. “Ele é a principal rota de transferência de micróbios para os humanos, que sofrem cada vez mais de doenças respiratórias e alergias nas grandes cidades”, afirma Venter. Para entender a diversidade de bactérias, fungos e vírus urbanos, seu projeto piloto, de US$ 2,5 milhões, vai analisar o ar dos edifícios e das ruas na populosa região de Mid-Town, em Nova York. Num único dia, foram coletados um bilhão de micróbios. “Imagina fazer isso num avião depois de dez horas de viagem”, diz Venter, num raro rompante de bom humor.

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