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Alex Pereira, primo de Jean Charles de Menezes, o brasileiro morto pela polícia britânica em 2005 sob suspeita de terrorismo, foi um dos alvos das escutas ilegais feitas pelo diário “News of the World”, segundo anunciou nesta quinta-feira a Scotland Yard. A informação é da agência Ansa.

Jean Charles de Menezes foi morto pela polícia britânica em 22 de julho de 2005. À época, o Reino Unido vivia o temor de novos ataques terroristas após os atentados de 7 de julho do mesmo ano, quando terroristas islâmicos britânicos detonaram quatro bombas no sistema de transporte público de Londres, matando 56 pessoas.

Jean Charles se preparava para entrar no metrô londrino, e reagiu assustado ao comando de voz dos policiais, que, suspeitando do brasileiro, alvejaram-no. Jean Charles era natural de Gonzaga, Minas Gerais, trabalhava no Reino Unido e não tinha conexão alguma com atividades terroristas. O Reino Unido admitiu o erro na ação, alegando ter confundido o brasileiro com um terrorista, mas nenhum policial foi condenado pela morte.

Fim do jornal

O caso do "News of the World", igualmente antigo, estourou nas últimas semanas, quando foi desnudado um esquema de escutas ilegais promovidas pelo periódico. As acusações datavam de pelo menos cinco anos, mas recentes casos levaram ao fechamento do jornal, que parou de circular nesta semana. Entre os alvos das escutas estavam vítimas dos atentados de 2005. O diário era uma das posses do magnata da mídia Rubert Murdoch.

O "News of the World" era um dos dos jornais de maior circulação do Reino Unido. Entre as pessoas afetadas pelo escândalo está Coulson, ex-chefe de imprensa do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e Neil Wallis, o ex-diretor-executivo do News, detido nesta quinta-feira. Murdoch foi convocado e deve depor para prestar esclarecimentos aos investigadores.

Mãe

A notícia de que o telefone de um primo do brasileiro Jean Charles de Menezes teria sido grampeado na Inglaterra surpreende Maria Otoni de Menezes, 66 anos, mãe do eletricista assassinado pela polícia britânica em 2005. A informação chegou à imprensa britânica por meio da advogada Yasmin Khan, mas a família – que vive numa zona rural em Gonzaga, Minas Gerais – tomou um choque com o caso.

Informada por Terra Magazine sobre o episódio, que já corre pela imprensa inglesa, ela apenas lamentou que as especulações tragam à tona de volta a dor daquele tempo. "É até bom que você me fale, a gente aqui não fica sabendo de nada". "Não queremos nem lembrar, isso traz muita dor pra gente".

Nesta quinta-feira (14), a Scotland Yard confirmou que o telefone de Alex Pereira foi grampeado pelo investigador Glenn Mulcaire, preso em 2007 por escutas feitas pelo jornal "News of the World".

Segundo Khan, que falou como advogada da família ao jornal "The Guardian", detalhes sobre ligações telefônicas de Alex, que trabalhava em Londres com Jean, foram encontrados em documentos de Mulcaire.

O jornal "News of the World" foi fechado no último dia 10 pelo seu dono, o magnata Rupert Murdoch, depois de uma série de escândalos envolvendo escutas ilegais. O Parlamento britânico iniciou uma investigação do caso e convidou Murdoch para depor. Embora boa parte das escutas investigadas sejam antigas, a polícia procura determinar a real extensão do caso e pode chegar a culpar diretamente os donos do jornal.

"Enquanto vive, alembra e sofre"

O inusitado dos fatos desta quinta-feira cruza mais uma vez a família simples do interior mineiro com um grande escândalo internacional. Mas a vida na casa dos Menezes parece continuar alheia às agitações.

"Continuamos trabalhando", diz dona Maria. Barrado na Inglaterra há um ano, o primo de Jean que foi grampeado hoje trabalha em Virginópolis como operário em construções.

Jean Charles de Menezes foi morto pela polícia britânica em 22 de julho de 2005 ao ser confundido com umj terrorista. À época, o Reino Unido vivia o temor de ataques após os atentados de 7 de julho do mesmo ano.

"Não vou esquecer nunca, enquanto a gente vive, alembra e sofre", conclui a mãe. "Mas o sofrimento da perca não acabou com a força da gente".