Para que serve um vice-presidente? “No Brasil o vice praticamente não tem atribuições relevantes. Além da simbologia política, constitucionalmente é uma alegoria, apenas substitui o titular eventualmente”, explica o cientista político Paulo Kramer. “Mas, na política, um vice bem escolhido faz diferença”, ressalva. O vice pode abrir portas em rincões onde o candidato não chega, articular alianças e ajudar a levantar fundos para campanha. Por isso, os partidos se anteciparam ao Carnaval e já entraram na avenida em busca do vice ideal. Na segunda-feira 28, um afobado presidente do PT tratava de acelerar a escolha do vice de Lula. Durante um jantar em um luxuoso hotel em São Paulo com o presidente do PL, Waldemar Costa Neto (SP), o deputado José Dirceu (PT-SP) formalizou o convite: “Queremos uma aliança nacional com o PL e o nome é do senador José Alencar” (PL-MG), disparou Dirceu. Dono da Coteminas, Alencar é um industrial bem-sucedido e com trânsito no empresariado mineiro. Ficou marcado um novo encontro depois do Carnaval entre os dirigentes dos dois partidos na casa de Bispo Rodrigues, da Igreja Universal. Rodrigues é do PL, mas toca o surdo em outra bateria, a do bispo Edir Macedo, que defende a candidatura de Anthony Garotinho (PSB-RJ).

Fator Garotinho – Há outro obstáculo nas pretensões petistas. Embalado pelo crescimento nas últimas pesquisas – empate técnico com Roseana pelo Ibope e terceiro colocado na CNT/Sensus –, Garotinho não perdeu tempo na concentração. Um dia antes de José Dirceu, o governador do Rio ofereceu o mesmo posto a José de Alencar e ao bispo Macedo: “Acho viável uma aliança com o PL porque não é um partido governista”, disse Garotinho, que também sonha em ter o maior empresário têxtil do Brasil a seu lado. Para alguns, o governador do Rio se superestima. “A candidatura dele não é um bloco de sujos, mas também não estará no desfile das campeãs” – desdenha o deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ). Para o PT e o PSB, além de colaborador financeiro, Alencar seria um bom figurino para transmitir moderação aos empresários e à classe média. “Não vamos ficar jogando confete para todo lado”, alfineta o deputado Costa Neto, numa referência ao enredo peemedebista, que ora acena para José Serra (PSDB-SP), ora para Roseana Sarney (PFL-MA).

Na batalha pelo vice, o PMDB é o mais cobiçado pelos seus atraentes adereços. O partido tem tempo de tevê, palanques estaduais e bancada no Congresso. PSDB e PFL entram firme nessa batalha de confete. A comissão de frente do PMDB não tem mais dúvidas de que a candidatura própria agora é cinza. As lideranças do partido ensaiam a adesão ao candidato que demonstrar maior fôlego para desfilar no segundo turno contra o candidato do PT. Mas o partido sai em alas separadas. Os caciques engrossam o coro pela escolha entre Serra e Roseana, mas pelo menos três importantes dirigentes peemedebistas pretendem apoiar Luiz Inácio Lula da Silva: “É claro que haverá defecções. Orestes Quércia (SP), Roberto Requião (PR) e Itamar Franco (MG) vão puxar o samba do Lula”– prevê o líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Além de inviabilizar as prévias, o PMDB governista só escolherá a melhor fantasia na convenção de junho.

Por causa do comportamento camaleônico dos peemedebistas, o PSDB vem aumentando o tom para ter o PMDB na chapa como vice. Na segunda-feira 28, o presidente Fernando Henrique fez questão de ir a Pernambuco com o candidato José Serra, para explicitar seu desejo de que a batucada do candidato do Planalto incorpore algumas notas do frevo pernambucano. O governador Jarbas Vasconcellos (PMDB), apontado como parceiro ideal para que Serra entre no Nordeste, está recalcitrante. “Eu não cogito ser vice”, disse Jarbas na quinta-feira 31 ao deputado Maurílio Ferreira Lima (PMDB-PE). Além de não conseguir o vice dos sonhos, Serra corre o risco de ter problemas com a Justiça Eleitoral. Na quarta-feira 30, durante um comício em Sinop (MT), o ministro foi saudado por cartazes que diziam: “O ministro José Serra traz saúde pra toda a gente.” Foram colocados pela prefeitura, mas tinham os logotipos do governo federal. Pelo menos três ministros do TSE viram a foto e se surpreenderam, prevendo acusações por crime eleitoral.

Bloco pefelista

– No barracão do PFL, cuja candidata Roseana Sarney (MA) vem mantendo as intenções de votos que lhe garantem a segunda colocação, o clima é de irritação com o papel de abre-alas de FHC na candidatura Serra. Mas Roseana marca o passo. A governadora aproveitou um almoço na quinta-feira 31, no Palácio dos Leões, em São Luís para oficializar o convite ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL): “Seria muito boa uma aliança com o PMDB.” O vice que o PFL deseja é o presidente nacional do partido, Michel Temer (SP). Roseana garantiu ter uma pesquisa interna na qual estaria empatada, em 22% com Lula em São Paulo, e aproveitou o encontro para fustigar o principal adversário, que vê em Serra um concorrente menos perigoso: “É muita presunção do PT querer escolher com quem irá disputar o segundo turno.” Por precaução, o PFL começou a se mexer para não ficar atrás do cordão de isolamento, caso o PMDB prefira Serra. Iniciaram um assédio ao PDT e ao PPB. “Temos boas alternativas. Pode ser o ministro da Agricultura, Pratini de Morais (PPB-RS), ou mesmo o deputado Delfim Netto (PPB-SP)”, diz o líder Inocêncio Oliveira. Pura máscara. O que todo mundo quer mesmo é ter a mais atraente rainha da bateria no bloco: o PMDB.