Quando iniciamos a jornada do Ano Internacional do Voluntário, não podíamos imaginar que a causa ganharia a dimensão que tomou entre os brasileiros. O País respondeu com entusiasmo à mensagem de que a doação de tempo e talento em prol da comunidade pode promover uma verdadeira transformação de nossa realidade. A questão do trabalho solidário ganhou terreno nas empresas, conquistou o cidadão comum e está recrutando novos adeptos a cada dia nos mais distintos extratos da sociedade.

Definitivamente, estamos descobrindo nossa vocação social. Basta olhar para o mundo corporativo para perceber esta mudança. Grande parte do contingente das companhias privadas que operam no País está realizando um prodigioso trabalho junto a comunidades ca-rentes, dedicando tempo e esforços de seus colaboradores a projetos sociais. Pesquisa do Ipea mostra que, das 782 mil empresas privadas do País, 462 mil (59%) já realizam alguma atividade social.

Mas os exemplos não vêm só das empresas. O cidadão comum está se envolvendo cada dia mais com o trabalho voluntário. Pesquisa realizada pelo Ibope no segundo semestre deste ano em nove capitais mostrou que já somos quase 30 milhões de brasileiros dedicados à causa, ou cerca de 18% da população. Outro dado também chama a atenção. Estudo feito pelo Datafolha recentemente apontou que 83% dos brasileiros acham que o trabalho voluntário é muito importante para o País. Ou seja, demos um salto qualitativo. O brasileiro já vê no trabalho voluntário uma ferramenta estratégica na luta pela cidadania.

Esta adesão a que estamos assistindo é uma resposta aos dramas sociais vividos pelo País. Somos uma sociedade na qual mais de 50 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza. Numa lista de 162 nações, o Brasil apresenta a quarta pior distribuição de renda do mundo, segundo informa relatório apresentado recentemente pela ONU. Ocupamos, de acordo com a organização, a 69ª colocação no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano. Diante destes indicadores, o trabalho voluntário surge como uma opção para rompermos o imobilismo e atuarmos para aliviar o sofrimento e abrir novas perspectivas para milhares de pessoas fadadas à exclusão.

Embora já formemos uma poderosa rede de colabora- dores, ainda somos poucos para abraçar a tarefa que aí está. Há muito por se fazer. O Ano Internacional do Voluntário não deve ser encarado como uma tarefa concluída. Estamos, na verdade, abrindo a década do voluntário. A conquista de novos adeptos, a profissionalização dos projetos sociais, a capacitação de líderes, a renovação do interesse daqueles que já põem a mão na massa em prol do social e o fomento de caminhos alternativos se colocam como desafios permanentes. Temos ainda um mundo a construir.

Felizmente, a responsabilidade social está na ordem do dia. A semente está lançada. Cabe agora a todos nós mantê-la viva e lutar para que o trabalho voluntário prospere em nosso tecido social. Estamos todos convocados para esta missão. Não há como construir um País mais justo sem contemplar a solidariedade. Chegou a hora de cada um de nós fazer a sua parte.