Para os Estados Unidos, a guerra contra o terrorismo vai muito além da caça ao saudita Osama Bin Laden. O Irã, o Iraque e a Coréia do Norte foram incluídos no “eixo do mal” pelo presidente George W. Bush, na terça-feira 29, no discurso sobre o Estado da União. O presidente americano também está convencido de que existe um “submundo terrorista” nas Filipinas. Tanto que, dois dias depois, 650 soldados americanos desembarcaram naquele país asiático que um dia foi colônia americana. O deslocamento desse contingente às Filipinas é parte da nova estratégia militar na campanha antiterrorismo dos Estados Unidos. Até dez anos atrás, as Filipinas sediaram duas das maiores bases militares americanas no Exterior – Clark e Subic –, que foram desativadas. Agora, as forças especiais americanas irão treinar os soldados filipinos para combater o grupo terrorista islâmico de Abu Sayyaf, que, segundo a Casa Branca, está diretamente ligado à al-Qaeda de Bin Laden.

“Serão os filipinos que irão para o combate, não os americanos”, garantiu a presidente das Filipinas, Gloria Arroyo, em resposta aos protestos de dezenas de manifestantes que foram às ruas de Manila contra a ação das Forças Armadas dos EUA em seu território. O modelo é simples: em vez de instalar novas bases ou enviar soldados americanos para o campo de batalha, como no passado, agora treinam-se tropas locais para que elas façam o trabalho – algo mais seguro, pelo menos para os americanos. Apesar disso, na sexta-feira 1º, o Pentágono admitiu que um avião MC-130 foi atingido por um disparo durante manobras nas Filipinas. “Esta é uma guerra muito diferente daquelas em que lutamos até agora. No Afeganistão, ficou provado que as estratégias militares devem mudar”, diz o general da reserva do Exército Martin Taylor. “No caso afegão, fez-se amplo uso de comandos em operações especiais. Primeiro, recolheram-se dados sobre o inimigo. Depois, vieram incessantes e pesados bombardeios. Por último, as tropas americanas se instalaram em terreno já ocupado pelos soldados anti-Taleban. O resultado não poderia ser melhor: não apenas as baixas americanas foram mínimas como se pode dizer que as baixas civis foram relativamente pequenas. O ideal é não pôr em risco as tropas americanas para não haver baixas. O que vemos na Colômbia, Filipinas, Somália e Iêmen reflete essa tendência, que deve ser cada vez mais implementada pelo Pentágono”, disse o analista a ISTOÉ. “Na Colômbia, por exemplo, existem seis mil assessores militares americanos dando instruções às Forças Armadas locais para o combate à guerrilha”, completa Taylor.

As Forças Armadas americanas ainda mantêm 800 instalações militares fora dos EUA, mas há anos o Pentágono vem enxugando essas bases. Entre 1990 e 1995, por exemplo, foram retirados 180 mil soldados da Alemanha. Os EUA ainda mantêm bases importantes na Europa ocidental (Alemanha, Espanha, Itália e Grécia), na Turquia, na ilha de Okinawa (Japão) e na Coréia do Sul. Outras bases foram desativadas, como as filipinas Clark e Subic e as do Canal do Panamá. Guantánamo (Cuba) é mantida apenas para espicaçar Fidel Castro. Já na Arábia Saudita, o casamento de interesses com Tio Sam começa a ser ameaçado. A presença dos cinco mil soldados americanos em território saudita vem provocando mal-estar dos dois lados. Muitos sauditas – inclusive na família real – não aceitam a presença de tropas estrangeiras em solo considerado sagrado pelos muçulmanos e irritam-se cada vez mais com o apoio irrestrito que Washington vem dando a Israel. Já a opinião pública americana ficou azeda depois do 11 de setembro, quando se soube que, dos 19 pilotos suicidas, 15 eram sauditas. Apesar de tudo, interesses em armas e petróleo ainda falam mais alto. Os EUA são o maior parceiro comercial dos sauditas e estes são os maiores compradores de armas dos americanos. Então, mesmo malvistos, os soldados americanos devem permanecer, até para proteger os sauditas contra vizinhos belicosos como Saddam Hussein.

O petróleo da Ásia Central também é uma boa razão para França e EUA terem acertado o envio de forças especiais para a ex-república soviética do Quirguistão. No total, serão cerca de três mil soldados americanos e 40 caças F-18, F-15 e Mirage 2000-D para uma base em Manas, em Bishkek (capital). Por trás da campanha contra os terroristas, está a política de proteção às grandes reservas asiáticas de petróleo. Além disso, a localização da base é perfeita: dá para espionar a China, a Índia e o Paquistão e, de quebra, a separatista Chechênia.

Menos e melhor – “As palavras de ordem hoje são: mobilidade e rapidez”, diz o general Taylor. E ele parece estar em sintonia com o Pentágono. De acordo com um documento do Departamento de Estado americano, existe um plano para que haja duas frotas separadas para os EUA. Uma operando nos oceanos Pacífico e Índico e outra no Atlântico. No mesmo estudo, calcula-se que seriam necessários não mais que 12 mil homens e 70 aviões para as chamadas operações “rápidas”. Com esse contingente, supostamente se evitariam demoras com a arregimentação e fixação das tropas, como ocorreu no conflito do Kosovo, onde houve grandes baixas pela morosidade da ação militar internacional.