Não é apenas a polícia paulista que está às voltas com muitas perguntas e poucas respostas. Por volta das 14h15 da sexta-feira 25, o promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, 43 anos, estava em seu Golf verde no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte (MG), quando uma moto com a placa coberta ocupada por dois homens parou a seu lado. A cena foi rápida e presenciada por diversas pessoas. O homem que estava na garupa sacou uma pistola automática PT 380 e fez diversos disparos contra o promotor. Atingido no rosto, no braço, no peito e nas mãos, Francisco não resistiu aos ferimentos. No local, foram encontradas 16 cápsulas detonadas. Imediatamente, o governador Itamar Franco (PMDB) convocou a cúpula da polícia e determinou a criação de uma força-tarefa para esclarecer o crime. Trabalhando à mineira, o secretário de Segurança, Márcio Domingues, logo avisou que apenas ele falaria sobre o caso e afirmou que daria informações quando tivesse algo de concreto para dizer. Até a noite da quinta-feira 31, ele não havia dito nada. “Não temos nenhum suspeito até agora”, diz o delegado Elson Matos, um dos líderes da força-tarefa.

Casado e pai de dois filhos ainda pequenos, Francisco era membro do Ministério Público mineiro desde 1986, e, embora não haja uma confirmação oficial, é bem provável que tenha sido vítima de sua própria competência profissional. Ele atuava na Promotoria de Defesa do Consumidor e vinha combatendo uma máfia que fabrica e vende combustível adulterado em postos da região metropolitana de Belo Horizonte. Graças a esse trabalho, no ano passado foram fechados 22 postos, e oito pessoas tiveram prisão temporária decretada. São donos de postos, gerentes e policiais que fazem bicos fora do horário de trabalho. No ano passado, o Tribunal de Justiça aposentou um juiz sob suspeita de corrupção. Denerval Vidal chegou a liberar 500 mil litros de gasolina adulterada apreendida em Contagem e recusou uma denúncia do Ministério Público contra três acusados de pertencer à quadrilha. “Pode ter sido a investigação sobre essa máfia que motivou o assassinato de Francisco”, afirma o procurador-geral de Justiça de Minas, Nedens Ulisses Freire Vieira.

A possível vingança, no entanto, pode ter vindo de outro endereço. Francisco investigou com rigor a possível participação de policiais na fuga do traficante Fernandinho Beira-Mar, da Delegacia de Operações Especiais, ocorrida em 1997. E, ultimamente, o promotor trabalhava numa investigação sobre a falsificação de medicamentos. Desde a morte de Francisco, todos os promotores de Minas estão sob proteção da PM.