Com o acender de uma lâmpada, o governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) pretende acabar com uma face escura de seu Estado. Literalmente. Entre as várias medidas de desenvolvimento das regiões dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas, lançadas na terça-feira 14, está o projeto Luz no Saber, que em um ano deverá conectar 1.125 escolas à modernidade – 80% delas localizadas nesta região. Seus 35 mil alunos poderão ter em suas escolas, além do simples ponto de luz, televisão, vídeo, geladeira e até computador. Realizado em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), o projeto prevê a extensão de dois mil quilômetros de rede elétrica – o que equivale a iluminar uma cidade de 300 mil habitantes, como Governador Valadares –, pelos 188 municípios que compõem o grande bolsão de pobreza. “Queremos que Minas tenha um nível igualitário de desenvolvimento socioeconômico”, diz o governador.

Parece difícil aceitar que haja ainda, no Brasil, lugares tão isolados do mundo, mas essas escolas – 49 estaduais e 1.076 municipais – funcionam de maneira extremamente precária. Estão numa região semi-árida que tem carência de tudo, inclusive de água. “Até nisso a luz ajuda, possibilitando o uso de bombas para puxar a água de poços artesianos. Levar energia é condição prévia para a implementação de qualquer melhoria, de educação, saneamento e saúde. É o básico para revertermos o quadro de pobreza desta região”, explica a secretária de Estado de Educação, Vanessa Guimarães.

A área, que corresponde a 37% do território do Estado, é há muito tempo uma pedra no sapato dos governantes mineiros. Até por isso, Aécio Neves criou uma secretaria extraordinária só para cuidar dela. “É uma secretaria territorial, que trabalha com todas as outras para concentrar esforços na redução das desigualdades existentes entre as regiões do Estado. E com a luz elétrica vamos conectar essa parte de Minas com o mundo”, explica Elbe Brandão, secretária de Estado para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas.

Segundo a secretaria, o IDH (índice de desenvolvimento humano, cálculo criado pela ONU que vai de zero a um e tem como base o nível de educação, a longevidade e a renda per capita da população) desta área é de 0,651. O do Brasil é de 0,777 e o do Estado está em 0,719, levado para baixo justamente por causa da vida precária que levam os 2,8 milhões de habitantes desta região. A maioria vive em área rural e muitos nunca frequentaram uma sala de aula. O índice de analfabetismo de Minas está em 12%, mas neste pedaço do Estado é de 29%, com municípios que chegam a 46% de brasileiros que não sabem ler nem escrever. “Há locais tão distantes e tão isolados que teremos que usar energia solar.
A maioria dessas pessoas trabalha durante o dia e nunca teve a chance de estudar à noite. Com a rede elétrica, também isso será possível”, explica Fernando Schuffner, superintendente de Planejamento e
Expansão da Distribuição da Cemig.