Holandeses não costumam se dar muito bem no Nordeste brasileiro. Com a cadeia de supermercados Royal Ahold não foi diferente. Envolvido em um escândalo contábil e afogado em uma dívida bilionária, o grupo está se desfazendo do patrimônio amealhado ao redor do mundo, o que inclui uma sólida presença em território nordestino. As tradicionais cadeias de supermercados Bompreço, surgidas em
Sergipe e hoje presentes em nove Estados da região, e o G. Barbosa, também sergipano e com grande presença na Bahia, estão à venda. Assim como está prestes a mudar de mãos o Hipercard, cartão de
crédito ligado ao grupo Bompreço hoje presente em 2,2 milhões de carteiras nordestinas. Mais de R$ 1 bilhão deve ser desembolsado
pelo(s) novo(s) comprador(es).

O processo de venda, coordenado pelo também holandês ABN Amro Bank, já dura seis meses e está muito próximo do desfecho. O grupo holandês marcou para o início do mês que vem uma conversa com seus acionistas para tentar apagar o passado e projetar o futuro. É possível que até lá os novos donos do mercado nordestino já sejam conhecidos.

Candidatos à compra do Bompreço são três: Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart (é possível achar quem aposte no favoritismo de cada um deles). Nenhuma rede se pronuncia oficialmente sobre a operação, cheia de complexidades. O Bompreço é considerado a melhor porta de entrada do mercado varejista nordestino e conta com um trunfo importantíssimo: o Hipercard, que sozinho é capaz de recriar o mapa da presença das administradoras de cartão de crédito no Brasil. Administradoras que, por sinal, não tiram os olhos da negociação e, dizem alguns, até participam dela. Já o G. Barbosa deverá ser vendido em separado, a pedido do governo, para garantir a competição no mercado baiano.

O Ahold viveu o auge de seu inferno contábil em fevereiro, quando foi detectada fraude de US$ 500 milhões na Foodservice, um braço americano da companhia. Os dirigentes foram expelidos do cargo enquanto as ações do grupo perdiam mais da metade do valor. Para tentar tapar o buraco, a empresa resolveu vender seus ativos na América do Sul, que incluíam também redes na Argentina, no Chile, no Peru e no Paraguai. A empresa chegou ao Brasil em 1996, quando assinou um acordo com o Bompreço, que seria adquirido integralmente quatro anos depois. Nos próximos dias, o último capítulo será escrito.