Não tivesse sido implodido, o Sands Hotel & Casino de Las Vegas estaria revivendo a glória dos anos 60. Outrora frequentado pela turma boêmio-musical batizada de Rat Pack (bando de ratos), formada por Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis, Jr. e outros amigos inseparáveis de um dry martini, o hotel-cassino era o ícone de uma época que de fria só tinha a guerra entre os blocos comunista e capitalista. Lá dentro, a animação corria por conta do suingue, ritmo musical que virou gíria sintética de um alegre e descompromissado estilo de vida. Agora, toda a atmosfera do período vem sendo evocada na refilmagem de Onze homens e um segredo (Ocean’s eleven, Estados Unidos, 2001), de Steven Soderbergh – cartaz nacional a partir da sexta-feira 22 – na qual George Clooney interpreta o charmoso ladrão de casaca vivido por Frank Sinatra na primeira versão, de 1960, dirigida por Lewis Milestone. O filme clássico também está sendo relançado em DVD, com dois outros títulos estrelados pelo Rat Pack – Robin Hood de Chicago e Os quatro heróis do Texas. Para arrematar o clima de elegância revivida, já pipocam nas lojas os CDs Eee-o 11 – the best of The Rat Pack e Swing when you’re winning, do pop star inglês Robbie Williams, que soube muito bem sacar a tendência e fez um ótimo disco só com standards da época.

Embora não seja ambientado nos anos 60, o remake de Onze homens e um segredo não trai o espírito cool daqueles ratos refinados. A regra número 1 do clube era ser contra a “mentalidade rotariana”, princípio conservado nos diálogos afiados, cheios de humor e ironia da versão do diretor Steven Soderbergh, centrada na camaradagem dos 11 charmosos profissionais do roubo. Afinal, não é todo dia que um ex-presidiário como o Danny Ocean de George Clooney recebe, ao sair da cadeia, seu pacote de pertences contendo apenas um smoking engomado e uma grossa aliança de ouro. Os anos se passaram e Ocean quer agora reencontrar a mulher Tess (Julia Roberts). Vai a um cassino de Las Vegas, mas, para sua decepção, ela está namorando o rei da jogatina Terry Benedict (Andy Garcia).

Como quer recuperar o amor de Tess, Ocean planeja um golpe perfeito. Seu propósito é roubar, com toda a classe, US$ 150 milhões da inacessível caixa-forte dos três cassinos de Benedict, missão impossível não fosse o talento e a sorte dos dez amigos que reúne na empreitada, entre eles a fera do pôquer Rusty (Brad Pitt), o mão leve Linus (Matt Damon) e o expert em explosões Basher (Don Cheadle). Ao ser modernizada, a história ficou mais eletrizante. Práticas simplórias de roubo do primeiro filme deram lugar a uma verdadeira operação high tech de assalto, envolvendo sistemas de alarme sofisticadíssimos cujo desarme mantém o espectador com frio na espinha. Soderbergh fez diversão de primeira numa fita em que não se vê sangue tampouco se ouvem tiros. Nem precisava destes artifícios, já que contou com um elenco tão estrelado e em perfeita sintonia. George Clooney, sócio do cineasta na produtora Section Eight, facilitou o trabalho. A exemplo dele, convenceu os colegas a abrir mão do cachê. Para ganhar o sim de Julia Roberts, por exemplo, cujo salário hoje ronda os US$ 20 milhões, Clooney enviou a ela o roteiro junto a uma nota de US$ 20 e um bilhete com os dizeres: “Ouvimos dizer que você ganha 20 por filme.” A ironia deu certo.

ClássicosOnze homens e um segredo só tem um defeito: o de não trazer nenhuma música do Rat Pack. Problemas autorais, provavelmente. Mas fora do cinema, a lacuna é suprida pelo álbum Eee-o 11, que reúne algumas das canções popularizadas pelo primeiro filme. As mais conhecidas são a própria Eee-o eleven , interpretada por Sammy Davis, Jr., e Ain’t that a kick in the head, cantada por Dean Martin. Me and my shadow, clássico dos shows do trio no Sands, onde eles se divertiam à noite e filmavam de dia, aparece em versão histórica num dueto de Sinatra com Davis, Jr. Esta foi uma das canções escolhidas por Robbie Williams entre as 15 que recheiam Swing when you’re winning. Em seu quarto trabalho, Williams não trocou apenas o visual rebelde pelo de um gentleman de terno bem cortado e cabelo gomalinado. Ele também deixou momentaneamente de lado o pop-rock e arregimentou uma orquestra e uma banda de jazz para soltar a voz em canções tiradas do repertório do Old Blue Eyes, a quem dedica o álbum, numa homenagem extensiva a Dean Martin e Sammy Davis, Jr.

Brilho

– O ex-integrante do grupo Take That teve a idéia do disco depois de gravar

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Have you met miss Jones?

para a trilha do filme

O diário de Bridget Jones

. Gostou tanto do resultado que resolveu fazer um CD inteiro pontuado pelo brilho das orquestras de metais. “Nos últimos três anos eu fazia loucuras no palco para esconder o fato de que não cantava. Agora, eu me ouço e não me acho mais um mau cantor”, confessa. Dos sucessos de Dean Martin, Williams optou por

Ain’t that a kick in the head

, e dos hits de Sammy Davis, Jr., a belíssima

Mr. Bojangles

. Homenagear The Voice foi mais difícil, mas ele se saiu bem. Entre as centenas de canções que marcaram a carreira de Sinatra, Williams pinçou seis clássicos. Em

Mack the knife

, por exemplo, ele dá uma interpretação malandra como pede a música sobre um bandido de Londres. Sempre bem acompanhado, Robbie Williams ainda divide o microfone com a atriz Nicole Kidman em

Somethin’ stupid


e conta com o lendário Bill Miller, pianista de Sinatra, nos teclados de

One for my baby

. Mas a parceria mais bem- sucedida acontece com o próprio homenageado, ressuscitado pela tecnologia em

It was a very good year

, num arranjo original de 1965. Mais chique, impossível.


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