Ninguém escapa do Grande Irmão e de seus olhos opressores e onipresentes, que a todos espreita na sociedade vigiada do angustiante livro 1984, do escritor inglês nascido na Índia, George Orwell (1903-1950). Para repetir este estranhamento adaptado para o entretenimento e transformado na mania mundial de as pessoas bisbilhotarem a vida alheia, a Rede Globo gastou algo em torno de R$ 25 milhões na esperança de angariar o maior número possível de espectadores para seu Big Brother Brasil, versão do programa holandês exibido em 21 países. Pelo menos na estréia, a audiência bateu nos satisfatórios 49 pontos. Em compensação, o resultado se mostrou sofrível e constrangedor. Não dá para engolir a alegria ensaiada dos 12 participantes da gincana televisiva. Felizes e exibidos, eles nitidamente interpretavam para as 38 câmeras e 60 microfones espalhados pelo local, como um bando de escoteiros seguindo as orientações do líder.

A emissora alardeou e jura que todos saíram de uma seleção entre 500 mil inscritos por carta e pela internet. Mas ao que parece muitos olheiros da Globo participaram da escolha, escalando bonitões e bonitonas. Seja como for, o fato é que na estréia alguns participantes foram ostensivamente privilegiados pela edição totalmente videoclipada para forçar um glamour – artificial, é certo – que diferenciaria o programa do similar

Casa dos artistas

, do SBT, que no passado se transformou em febre nacional. Só que beleza e corpos sarados também cansam e a chatice dos chamados reality shows tende a prevalecer. Até o momento, a produção e os apresentadores Pedro Bial e Marisa Orth – em evidente pagação de mico consentida pela obrigação profissional – estão fazendo de tudo para apimentar a rotina da casa construída especialmente para o programa. Impuseram um teste de resistência metendo os 12 concorrentes dentro de um carro para ver quem aguentava o sufoco e levava o prêmio de quatro rodas. O modelo Caetano foi desclassificado da prova porque não aguentou e urinou num balde, dentro do automóvel.