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CONCENTRAÇÃO
Em alguns setores, Sadia e Perdigão dominam, juntas, mais de 80% do mercado

A expectativa de um acordo entre a BRFoods e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) está mexendo com a indústria de alimentos no mundo. A BRFoods, que surgiu da fusão entre Perdigão e Sadia, criando a segunda maior empresa do setor das Américas, só terá autorização para continuar existindo caso se desfaça de parte de seu parque industrial e de sua linha de produção. E sobram interessados em morder fatias da empresa e em enfraquecer o poderoso concorrente. As brasileiras Marfrig e JBS demonstraram interesse na cadeia de proteína animal, em especial frangos e carne bovina, mas a americana Tyson Foods foi bem mais ousada. Encaminhou petição oficial ao órgão de defesa econômica afirmando ter interesse em “qualquer ativo” da Brasil Foods que for colocado à venda, de pratos prontos a lácteos. “A Tyson e uma centena de outras empresas têm muito interesse nos ativos da Sadia, há muitas marcas líderes que podem ir à venda”, avalia o consultor Osler Desouzart, ex-diretor de comércio exterior da Sadia e da Perdigão.

A Tyson e a Marfrig encaminharam sete petições ao conselho, cinco em respostas detalhadas e cuidadosas aos questionamentos do órgão sobre concentração de mercado e duas por iniciativa própria. A americana chegou ao Brasil há três anos adquirindo a Macedo, Avita e Frangobrás, três empresas pequenas de aves, e não esconde seu apetite por novas oportunidades no Brasil. O brasileiro JBS, apesar de ser a maior indústria de proteína animal do mundo, produz frango apenas nos Estados Unidos e no México. “É importante para o frigorífico ter produção de aves no Brasil”, diz uma fonte da empresa. O Marfrig, por sua vez, está ampliando seus negócios para outros alimentos, além das carnes, que têm tido margens reduzidas devido à queda do dólar. No ano passado comprou a americana Keystone Foods e a brasileira Seara.“As sinergias obtidas após a aquisição da Seara colaboraram para compensar parte dos efeitos do câmbio e dos custos”, diz documento da empresa. A Marfrig encontrou seu caminho. E ele aponta para o espólio da BRFoods.

O principal atrativo é a possibilidade de comprar ativos diferentes num mesmo bloco. A proposta da BRFoods é criar “mini-BRFs”, que seriam miniaturas da estrutura que existe hoje para cada marca. “É fácil? Não. Dá para fazer? Dá”, disse um alto executivo da BRFoods em conversas com o Cade. Para o consumidor, quanto maior a concorrência, melhor. 

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