São textos perturbadores. Casais formados por desconhecidos copulam sob o efeito de drogas fantásticas; multidões de suicidas conversam entre si enquanto despencam de prédios; e uma mulher atravessa dias tendo orgasmos com homens diferentes. O denominador comum entre eles é o fim. O fim de tudo, o fim do mundo, como descreve o enredo de O filho do crucificado (Ateliê Editorial, 176 págs., R$ 19), de Nelson de Oliveira, livro composto de cinco narrativas curtas e uma mais longa, todas apresentando uma versão singular do apocalipse. Paulista de Guaíra, Oliveira, 35 anos, autor de Subsolo infinito, elogiada estréia no romance, tem o dom de escrever sobre temas fantásticos, sem apelar para clichês. Ao contrário, o autor tem a capacidade de povoar histórias de seres que soariam improváveis em quaisquer ambientes que não os criados por ele próprio.

Os personagens do universo de Oliveira parecem funcionar de acordo com uma lógica própria, independentes de seu criador, que teima em segui-los, enquadrá-los e aprisioná-los entre as páginas. É o caso do filho do crucificado do título, cuja mãe se chama Maria Madalena, como a da

Bíblia

. Ou de Elias, que, enquanto toca um saxofone intermitentemente, olha pela janela e diz com um sorriso bem irônico no rosto: “Queridos, se eu fosse vocês viria aqui bem rapidinho. Caramba… não perderia isto por nada da minha vida.” Realmente, é o fim.