Houve um único momento da ­história nacional em que todos nós conseguimos enxergar a política como ela realmente é. E o crédito deve ser dado ao deputado Roberto Jefferson. Corria o ano de 2005 e, numa das cenas ­memoráveis da novela do mensalão, ­Jef­ferson foi confrontado por um deputado que simulava indignação, mas transpirava de medo. Era Valdemar Costa Neto, que, de dedo em riste, ­indagava quem ali, no Congresso Nacional, recebia a mesadinha. “Vossa Excelência paga e recebe”, respondeu o delator, com toda a naturalidade do mundo. Jefferson, que dizia a verdade, terminou cassado. Valdemar, que mentia, renunciou para escapar da cassação. Hoje, o primeiro está fora da política e o segundo, como secretário-geral do PR (que de republicano tem apenas o nome), continua dando as cartas no Ministério dos Transportes, através do seu preposto Alfredo Nascimento.

Assim que estourou o escândalo no Ministério dos Transportes, que revelou uma propina entre 4% e 5% nas obras bilionárias da pasta, como a Ferrovia Norte-Sul, Valdemar Costa Neto divulgou uma nota que equivale a uma carta de confissão. Disse, em outras palavras, que as reuniões da sua bancada no ministério buscam “garantir benfeitorias para as regiões representadas por lideranças políticas do PR”.

Ou seja: sem mensalão, o modo de fazer política é o velho método de “roubar e deixar roubar”. Algo que não foi inventado nem por Dilma, nem por Lula, nem por FHC (que já teve um ministro dos Transportes a quem imputavam o sobrenome de “Quadrilha”).

Alfredo Nascimento é apenas o sintoma da doença – e não a doença em si. É um ministro que tem dono (Valdemar Costa Neto), que faz o jogo da sua bancada (a do PR) e que, ao longo do processo, também extrai seus próprios benefícios – note-se que o filho do ministro, Gustavo Nascimento, de apenas 27 anos, está sendo investigado pelo Ministério Público por ter acumulado um patrimônio de R$ 50 milhões. É um ministro como tantos outros que já sentaram ou virão a sentar naquela cadeira. Uma autêntica raposa no galinheiro.

Qual é a doença verdadeira? A que torna o Executivo refém do Legislativo. Qualquer governo no Brasil só sai da letargia se conseguir cooptar o Congresso, seja com mesadas, seja com a divisão de cargos do bolo estatal. Qual é a solução? Avançar nos mecanismos de democracia direta, sem intermediação dos parlamentares, e esvaziar o galinheiro. A corrupção ainda é farta no Brasil porque o Estado se mete em tudo. Portos, estradas, ferrovias e aeroportos não deveriam estar abaixo da caneta de um ministro, mas sim funcionando sob um modelo competitivo de concessões privadas.

Alfredo Nascimento já é passado. Ele cairá nos próximos dias (ou horas, minutos) e nós teremos a breve ilusão de que se combate a corrupção no País… até o próximo escândalo.