Surgido no final da década de 80, o cantor e compositor Ed Motta, 30 anos, surpreendeu a todos com um vozeirão que lembrava o do tio, o grande Tim Maia. Como este, era todo chegado à música negra americana. Com o tempo, no entanto, a tal voz foi se tornando um instrumento a mais para ser arranjado junto com as cordas e os metais ou até com a percussão. Daí o sonho de gravar um disco instrumental, finalmente materializado em Dwitza, no qual ele aboliu as letras de 12 das 14 faixas de sua autoria, à exceção de Doce ilusão, com letra de Nelson Motta, e Coisas naturais, dividida com Ronaldo Bastos. Cada vez mais lembrando no visual um árabe friorento desenhado por Hergé, aquele da revista em quadrinhos Tintin, Motta emite uma infinidade de la-lás, gu-gu, du-du, blá-blá, tchaptchuras. Na linha sofisticada, há ainda o quesito instrumento. Todos foram gravados sem reverberação, equalização ou compressão digital, o que obriga o ouvinte a aumentar o volume. Para completar, seus músicos não tocam simplesmente. Eles “evocam”, “sofrem influência direta de”, “solam à la”, como Motta tem declarado. Muita pretensão? Talvez.

No momento, os compositores eruditos favoritos do cantor são o pré-dodecafônico Alexander Scriabin e o “punk dos anos 20”, Arthur Honneger, razão da existência da canção

Instrumetida

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Lindúria

foi composta no dia do aniversário de sua mulher, Edna, o mesmo de John Coltrane.

Madame pela Umburgo (no seu teatro dos olhos)

faz parte da trilha sonora de um filme mudo “não realizado”. E

Valse au beurre blanc

“deveria ter sido incluída” em algum filme de Jacques Tati. Em suma, Ed Motta fez um disco de som e referências refinadas, sem dúvida. Mas tanto quis impressionar que ficou chato. Ah!, em edmottês

Dwitza

significa “satisfação”.