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NÁUTICA
Livre da leucemia, Adenilson aproveita o caiaque. Abaixo, recreação
com o auxílio do monitor no The Hole Gang Camp, nos EUA

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A medicina já tem como certo que alegria, descontração e troca de afeto funcionam como espécies de remédios complementares a qualquer tratamento. Uma iniciativa que vem ganhando fôlego pelo mundo reúne todas essas características e está beneficiando milhares de crianças e adolescentes doentes. São os acampamentos idealizados para atender esse público e oferecer a ele um pouco de alívio para a difícil rotina de exames, internações e procedimentos por vezes dolorosos.

No Brasil, o último desses eventos foi realizado recentemente, em São Paulo, sob a organização do Hospital A . C. Camargo, especializado no tratamento do câncer. Em um fim de semana de junho, os responsáveis pelo Departamento de Oncologia Pediátrica reuniram 40 pacientes mirins no Acampamento Águias da Serra, localizado no bairro de Interlagos, em São Paulo. Os dias foram de entretenimento e muita farra. Adenilson Jesus Oliveira, 6 anos, aproveitou a temperatura amena para passear de caiaque. Enquanto isso, o amigo Marcos Gabriel Capistrano de Santi, 9 anos, divertia-se a valer fazendo arborismo. Os dois tinham motivo para comemorar: Adenilson acabou no mês passado um tratamento contra leucemia e Gabriel acaba de encerrar o tratamento contra um linfoma.

Nos Estados Unidos, um dos acampamentos mais tradicionais é o The Hole in the Wall Gang Camp. Fundado pelo ator americano Paul Newman (morto em 2008), ele tem sede em Connecticut. A cada ano, recebe cerca de 15 mil crianças portadoras de doenças diversas, como câncer, anemia falciforme e Aids. No local, além de todos os equipamentos para diversão – entre eles, arborismo, canoagem, pisci­nas –, está montada uma grande estrutura para atender às necessidades médicas dos hóspedes. Existe desde um serviço individualizado de nutrição até um centro de emergência. As crianças e os adolescentes podem passar até uma semana no acampamento.

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AÇÃO
Marcos pratica arborismo em chácara de SP (acima).
Abaixo, criança faz pintura em acampamento americano

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Os resultados desses dias são claros. “Temos muitas evidências de melhora na saúde das crianças”, garantiu à ­ISTOÉ Willow Ann Sirch, diretora de comunicação do acampamento americano. De fato, pela observação dos especialistas, os benefícios são variados. “Há um visível ganho na auto-estima das crianças”, diz a pediatra Cecília Maria Lima da Costa, diretora do departamento de oncologia pediátrica do A. C. Camargo, de São Paulo. Além disso, os pacientes que desfrutam desse tipo de experiência acabam desenvolvendo maior facilidade para fazer amigos, algo muito importante para quem está acostumado a ter as brincadeiras com os amigos interrompidas por consultas ou por momentos exigidos de descanso, por exemplo.

Outro fator positivo observado é o aprofundamento das relações dos pequenos com os médicos. Como, em geral, esses profissionais participam dos acampamentos, eles ficam mais próximos, em um ambiente descontraído, o que proporciona momentos de maior intimidade. Há ainda outro efeito. “As crianças relatam sentir uma grande sensação de liberdade”, conta a pediatra Cecília. Isso é compreensível. A partir do momento do diagnóstico, elas passam a viver cada vez mais enclausuradas em salas de exames e quartos de hospital. Sem contar a superproteção que podem acabar recebendo dos pais, de outros familiares, dos amigos – isso tende a deixar os pequenos pacientes ainda mais cansados emocionalmente. Brincando ao ar livre, soltos, essa sensação diminui consideravelmente.

Para os que encerraram o tratamento, os acampamentos dão a oportunidade de uma merecida comemoração, é claro, mas também servem como ponto de fortalecimento para lutar contra o estigma da doença. “Eles percebem mais claramente que são capazes de fazer muita coisa. Antes, normalmente ouviam só o que não podiam fazer”, disse Willow.

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