Um dos princípios da Medicina Legal alemã, uma das mais desenvolvidas do mundo, diz que a melhor polícia é o frio e a chuva – todo mundo vai direto do trabalho para casa e com isso diminui a violência. Algumas cidades européias acrescentaram outro ponto ao que se pode chamar de polícia climática: proibição de venda de bebidas alcoólicas em bares, em média a partir das 11 horas da noite. Até o final desse ano, Brasília e as suas 18 cidades satélites adotarão tal método – lei seca às dez da noite. Em Ceilândia, cidade com cerca de 1,5 mil pontos-de-venda de bebida e onde se registra um dos maiores índices de criminalidade do Brasil, a medida acaba de entrar em vigor. A Secretaria de Segurança Pública calcula reduzir em 40% o número de assassinatos e agressões. “Nos países em que essa medida foi adotada, como a Inglaterra, a violência despencou”, diz Maria das Graças Rua, socióloga da UnB. Nas cidades paulistas de Hortolândia, Itapevi e Barueri, o limite de horário foi implantado no ano passado. A criminalidade caiu 60%. Num país em que se vende rabo-de-galo às sete horas da manhã justamente nas regiões mais violentas, e no qual menores de idade estão bebendo cada vez mais cedo (há lanchonetes que servem uísque em copo descartável para a meninada tomar no carro), não custa tentar esse método. Se o álcool não acirra os ânimos, então por que se proíbe a bebida nos dias de eleição? Se o Brasil tem 83,7% dos leitos psiquiátricos públicos ocupados por dependentes de álcool, é ou não um país alcoólico? Finalmente, ninguém está proibido de manter sua casa aberta até mais tarde da noite. O que não pode é vender álcool.