Depois que o tempo da cirurgia de catarata foi reduzido para apenas alguns minutos, imaginava-se que tão cedo não apareceria algum avanço científico significativo nessa área. Mas o oftalmologista inglês Stuart Cummings acaba de melhorar o que já era bom. Ele desenvolveu uma nova lente que proporciona ao paciente uma boa visão tanto para longe quanto para perto. As lentes usadas atualmente não permitem que o paciente enxergue bem em qualquer distância. “O que os oftalmologistas fazem hoje em dia é adaptar a lente para longe ou para perto. Quando a adaptação é feita para maior distância, a visão para distâncias menores fica prejudicada, e vice-versa”, explicou a ISTOÉ o pesquisador Cummings. Com a nova prótese, esse problema desaparece.

A catarata caracteriza-se pela opacificação do cristalino (estrutura transparente responsável pela retração do olho na hora de focar algum objeto). A doença afeta milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a maior parte homens e mulheres acima dos 65 anos. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia estima que 450 mil operações sejam feitas anualmente. As cirurgias são realizadas para que o cristalino possa ser substituído pela lente.

A nova técnica é resultado de dez anos de pesquisa e consiste no implante de lentes especiais, com hastes laterais de silicone. É algo parecido com óculos minúsculos, com uma lente só. As hastes de silicone funcionam como se fossem dobradiças ligadas à musculatura interna do olho. Por isso mesmo, seguem a contração desses músculos, permitindo a movimentação da lente. Essa mobilidade serve para ajustar o foco para qualquer distância. As primeiras lentes para o tratamento da catarata faziam com que os pacientes apresentassem dificuldades para ajustar o foco para perto. Com a evolução tecnológica, surgiram as lentes bifocais, que pareciam ser a solução, mas provocavam distorções nas imagens. A pesquisa de Cummings parece resolver esse problema. “No Brasil, cerca de 70 pacientes já receberam essa lente e estão obtendo bons resultados”, conta o oftalmologista carioca Carlos Roberto Paiva Gonçalves, professor da Universidade Gama Filho e um dos coordenadores do estudo que está sendo realizado no País para verificar a eficácia da novidade. A professora Léa Campos, 47 anos, é uma das 70 pessoas que receberam a nova lente e está satisfeita. “Antes eu enxergava muito mal a pequena distância, necessitava de óculos. Hoje tiro a sobrancelha sem precisar de óculos”, conta Léa. A lente já está sendo usada com sucesso na Europa e o FDA – órgão que autoriza e fiscaliza o uso de medicamentos nos Estados Unidos – está analisando a possibilidade de utilizar o produto em pacientes americanos. No Brasil, a lente está sob avaliação do Ministério da Saúde e só deverá estar à venda no final deste semestre. O preço ainda não foi definido.