O fantasma da guerra química ainda paira sobre o planeta. Só no último dia 15, mais de 30 lojas do McDonald’s da Austrália receberam cartas supostamente infectadas com antraz. Na terça-feira 22, o jornal The New York Times publicou a primeira boa notícia desde a morte de cinco pessoas após os atentados com o pó branco de outubro de 2001: cientistas americanos conseguiram rastrear parte do DNA da substância presente nas cartas e devem determinar o laboratório de origem do bacilo em até duas semanas.

Enquanto isso, uma ciência nada convencional promete apontar pistas infalíveis para se chegar ao autor da façanha. É a grafologia, arte de decifrar o perfil psicológico de uma pessoa com base na sua escrita. “Da mesma forma que uma impressão digital jamais se repete, não existe no mundo uma grafia igual a outra. Também não se pode alterá-la de propósito, mesmo que mudem alguns detalhes”, explica José Bosco, autor do livro Grafologia: a ciência da escrita (Madras). Convivendo há 15 anos com laudos grafotécnicos, Bosco se debruçou sobre fotografias das cartas com antraz enviadas ao Senado americano e aos estúdios da rede de tevê NBC, em Nova York, e anuncia o seu veredicto. “O autor é obstinado e muito esperto. As letras perpendiculares do terrorista aparentam polimento e equilíbrio, mas as linhas descendentes denunciam melancolia e depressão”, avalia.

Para decifrar os sinais íntimos do autor de uma letra, um grafólogo deve recorrer às teorias psicanalíticas de Freud e Jung. Das regiões inferior, média e superior do eixo vertical das letras depreendem-se elementos elucidativos sobre o id, o ego e o superego, três unidades formadoras da mente humana na concepção do pai da psicanálise. Dessa maneira, características da alça da letra gê, por exemplo, se relacionam com o instinto e a sexualidade, enquanto a alça da letra efe, com o intelecto. No eixo horizontal, por sua vez, os lados esquerdo e direito remetem, respectivamente, ao indivíduo e à sociedade, conforme teoria de Jung. “O terrorista busca se relacionar com a coletividade, mas todo contato social do autor das cartas é agressivo”, considera Bosco.

Mas a relevância da grafologia ultrapassa os trâmites da perícia policial. Pode ser útil na admissão de um funcionário ou na escolha de um candidato, além de ajudar no diagnóstico de distúrbios psíquicos. Também vale como passatempo. ISTOÉ encomendou a Bosco análises de textos feitos por famosos e ocultou o nome dos autores. O resultado foi surpreendente.

O bê-á-bá da escrita • Inclinação para a esquerda: introversão, timidez, subjetividade
• Inclinação para a direita: sociabilidade, extroversão, otimismo
• Inclinação variável: instabilidade emocional, indecisão
• Escrita perpendicular: equilíbrio, polidez, educação
• Letra forte: liderança, firmeza, autoridade, persuasão, rigidez
• Letra fraca: sensibilidade, refinamento, timidez, preguiça
• Letras ligadas: raciocínio lógico, dinamismo, pensamento rápido
• Letras desligadas: intuição, detalhismo, subjetividade, insegurança
• Letras grandes: extroversão, arrogância, loquacidade
• Letras pequenas: timidez, modéstia, cautela, intelectualidade
• Escrita tipográfica: cultura, rigidez, ocultação do íntimo, insatisfação