Final de ano é provavelmente uma das épocas mais estressantes para a maioria das pessoas. O corpo está exausto, vítima do corre-corre do ano todo. A mente, esgotada pelas preocupações em casa, com os filhos e os companheiros, pelas cobranças no trabalho – ou pela falta dele. E justamente quando se imagina que será possível se recuperar do esgotamento com a chegada das festas e de alguns dias livres, começa outra maratona, física e de emoções. É a hora de correr atrás dos presentes que faltam, da organização das ceias, de checar os últimos detalhes da viagem. Também é o momento em que muita gente se vê obrigada a enfrentar a primeira ceia sem uma pessoa amada ou acertar de uma vez por todas quem vai ficar com o filho na noite de Natal. Ou seja, mais e mais stress, e numa época em que o espírito parece estar mais vulnerável do que nunca. Os sentimentos quase brotam na pele, incentivados por uma atmosfera que convida à revisão dos erros e acertos feitos ao longo dos meses. “Nesse período, também volta uma série de emoções ligadas a situações não muito bem resolvidas. É, por exemplo, o homem que depois de uma longa separação quer voltar para casa e se reunir com a família”, afirma o psiquiatra Luiz Cuschnir. Da reflexão à depressão, pode ser um passo. E o que era para ser uma época de alegria corre o sério risco de virar uma semana de amargura. Mesmo quando se sente uma felicidade verdadeira ao reunir a família em torno da mesa para celebrar, muitas vezes o cansaço físico pode ser imenso.

Para que isso não aconteça, ISTOÉ ouviu vários especialistas e preparou diversas recomendações de acordo com as situações mais comuns neste período. As orientações vão desde como se recuperar das dores físicas depois de passar horas no fogão preparando o jantar do dia 24 de dezembro até como superar a dor da solidão no dia 31. E voltar de fato com a alma e o corpo novinhos em folha em janeiro. Sem stress e com muito mais saúde.

Pais e filhos separados

Separada há três anos, a carioca Solange Souza, 41 anos, sempre passou as festas de fim de ano com o filho caçula, Rodrigo, de sete anos. O ex-marido, Álvaro Guimarães, 40 anos, aceitou a opção da ex-mulher. Neste ano, Solange avisou que vai passar a virada de 2001 para 2002 acompanhada apenas do namorado, o uruguaio Julio Noya, 38 anos. O ex-marido concordou. Já o filho questionou a decisão: argumentou que caberia a ele escolher com quem gostaria de ficar no fim de ano. Rodrigo vai passar com o pai, mas já avisou que no próximo ano quem vai resolver é ele.

O QUE RECOMENDAM OS ESPECIALISTAS
Pais separados devem tentar uma negociação e ouvir os filhos na hora de decidir quem passa que data com quem. Se não houver acordo, é necessário que se estabeleça um padrão para todos os anos. “Assim, evitam-se brigas repetitivas e o desgaste para pais e filhos”, aconselha a psicóloga Noely Moraes, de São Paulo.
Muitas vezes os adolescentes gostam de passar o Ano-Novo com os amigos. “Os pais podem negociar o Natal baseando-se na concessão do Réveillon”, orienta Noely.
Para levantar o astral, em especial se houve desgaste, o adolescente pode usar os dias livres para uma pequena viagem com amigos. A adolescente pode cuidar da aparência. A dermatologista Edileia Bagatin, de São Paulo, sugere produtos para hidratar e diminuir a oleosidade.
Os pais podem aproveitar o momento em que os filhos não estão para tirar um tempo para si. Uma boa dica é fazer algo que nunca dá tempo, como massagens relaxantes.

 

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DONAS-DE-CASA QUE RECEBEM A FAMÍLIA

Os preparativos das festas de final de ano da família D’Ottaviano, de Campinas, interior de São Paulo, começaram há um mês. Por e-mail, as cinco filhas de dona Aparecida e o filho, Luiz César, combinam o cardápio e dividem as tarefas da festa, que reúne 40 pessoas. “Cada um traz um prato e a gente se diverte”, diz a matriarca Aparecida (no centro da foto). “Este ano ficamos com saudade das comidas natalinas, como o tender. Vamos prepará-las”, conta a filha Lídia.

O QUE RECOMENDAM OS ESPECIALISTAS
• Para facilitar, podem-se picar frutas e temperos até dois dias antes, cobrir e colocar na geladeira. “Isso evita mais bagunça na cozinha no dia de servir”, explica o chef Carlos Siffert.
Alex Soletto

• Trabalhar por tempo prolongado na mesma posição pode causar dor muscular. É o que acontece durante o preparo das comidas. De acordo com o fisiologista Paulo Zogaib, de São Paulo, dá para aliviar e até prevenir as dores com pausas a cada dez ou 15 minutos. Outra dica é sentar e flexionar o tronco até encostar a ponta dos dedos das mãos nos pés.
• Zogaib recomenda uma massagem eficaz para quem vai precisar tirar a tensão dos músculos. “Coloque uma boa quantidade de bolinhas de gude em um saco plástico resistente, amarre e ponha no congelador. Quando precisar, retire e coloque na região a ser massageada. Com a mão, pressione as bolinhas contra a pele para que deslizem. O relaxamento ocorre após cinco minutos de massagem”, ensina.
• Para recuperar o brilho da pele depois de preparar a festa, a dermatologista Ediléia Bagatin recomenda cremes à base de vitamina C para o rosto. “Eles têm um poder hidratante muito bom”, afirma. Nas mãos, podem-se usar hidratantes com uréia.

SOLITÁRIOS

O economista Ifeato Mbakwe, 31 anos, é nigeriano e mora sozinho no Brasil há sete. Mas não faz disso um drama, nem nessa época. “Sempre bate uma tristeza de ver que não estou perto da família, mas não fico deprimido. Trabalho mais para não pensar muito e passo esses dias como os outros”, conta. Este ano Ifeato passará a véspera de Natal na casa da ex-namorada, a convite da mãe dela. “Quando sou convidado, vou com prazer, mas não espero convites”. Ifeato não tem planos para este Réveillon. Em anos anteriores, já ficou andando na rua à noite e improvisou indo para a praia só para passar a virada.

O QUE RECOMENDAM OS ESPECIALISTAS
• Para a psicóloga Noely Moraes, o jeito de lidar com o fato de estar sozinho nesta época do ano depende muito do significado que se atribui às datas. “Os solitários não estão condenados a ficar deprimidos no final do ano. Não é porque existe um padrão de uma família feliz, em torno da árvore, que outras opções também não sejam agradáveis”, garante.
n Uma ótima atitude é se presentear com algo que dê realmente prazer.
• Se bater tristeza, é preciso pensar logo em fazer alguma coisa que levante o astral. E procurar não meditar demais sobre o fato de se estar sozinho.
• E, para não ter que entrar em shopping e lembrar ainda mais do espírito natalino, uma boa saída é seguir para um day spa. Nesses locais, as opções vão desde banhos de ofurô de 15 minutos, por R$ 20 em média, até pacotes de sete horas de relaxamento e beleza que custam de R$ 300 a R$ 600.

DESEMPREGADOS

A expressão mudança radical define bem o que aconteceu na vida do analista de sistemas Odilo Rivero Alonso, 39 anos, em 2001. Este será o primeiro Natal dele na casa nova, separado após 11 anos de casamento e sem trabalho, depois de 13 anos na mesma empresa de equipamentos e serviços de energia elétrica. “Contratei uma assessoria de recolocação para me apoiar na procura de uma nova posição no mercado. Tenho boas perspectivas”, analisa. Odilo não sabe como será o final de ano. Ele e a ex-mulher estão resolvendo a agenda das duas filhas, de oito e nove anos, nos almoços e jantares desse período.

O QUE RECOMENDAM OS ESPECIALISTAS
• Talvez não dê para fazer o que foi sonhado durante o ano porque o desemprego bateu à porta. “Mas, se o Natal se apresentou dessa maneira, é melhor assumir, tanto para os filhos como para si mesmo”, diz a psicóloga Noely Moraes.
• Entender que se trata de uma situação passageira ajuda a não deixar a bola cair.
• Monte em sua casa uma espécie de kit de primeiros socorros para o seu astral se a tristeza vier. Procure se cercar de pequenos mimos que não representem grandes gastos, como comprar o chocolate que você gosta ou alugar um vídeo com o filme preferido.
• Como desemprego significa dinheiro curto, é preciso criatividade. Uma boa lembrança, na opinião do chef Carlos Siffert, de São Paulo, é colocar uma toalha bonita na mesa e algumas velas acesas. No caso de Odilo, ele poderia surpreender as filhas tentando aprender a preparar pratos rápidos e simples. Mas, se não tiver o menor talento para a cozinha, o jeito é descobrir o prato de que elas mais gostam e servir. Pode ser até pizza com sorvete.


QUEM VAI VIAJAR

Para relaxar e recarregar as energias, a família Pereira, de São Paulo, sempre que pode põe o pé na estrada depois do Natal. No dia 28 de dezembro, o casal Edson, 44 anos, e Fátima, 39, e os filhos Fábio e Naiara iniciarão uma viagem de cerca de 15 dias ao Nordeste. “Aproveitamos para descansar e voltar revigorados. Deixamos as preocupações de lado”, conta Fátima.

O QUE RECOMENDAM OS ESPECIALISTAS
• É preciso checar com antecedência se a reserva no hotel está realmente feita. Tentar se organizar na hora de arrumar a mala também é fundamental. Leve o que realmente for usar, pois assim evita-se que a bagagem fique pesada e provoque dores nas costas. Se isso acontecer, alongue o corpo três vezes por dia durante vinte minutos.
• Devem-se comer alimentos leves e evitar frituras. “Assim, há menos riscos de intoxicação alimentar e diarréia”, orienta a nutricionista Mirtes Stancanelli.
• Ninguém precisa se obrigar a fazer programas que não sente vontade. “Para evitar conflito durante a viagem sobre os programas a serem feitos, é preciso estabelecer as regras antes. Se o adolescente, por exemplo, quiser ir para um lugar movimentado e o pai para outro, mais calmo, deve-se negociar para se tentar contemplar os dois”, orienta a psicóloga Ana Maria Rossi, especialista em stress.
• Não se deve levar trabalho para fazer. Deixe a mente realmente descansar
• É imprescindível levar uma maleta de primeiros socorros. Ela deve conter repelente, termômetro, antiinflamatórios e analgésicos, e os remédios específicos de cada pessoa. “Se for para a montanha, não deixe de levar uma tornozeleira para o caso de torcer o pé”, orienta o médico cirurgião Eduardo Vinhaes, da Universidade de São Paulo.

QUEM PERDEU ALGUÉM

Este final de ano vai ser diferente para o estudante André de Andrade, 24 anos. O motivo é a falta da mãe, Maria Alice Andrade, que há dois meses morreu vítima de atropelamento. Ele ainda não sabe como atravessar as festividades. “No Natal, vinham todos para minha casa. Este ano, sem a minha mãe, não sabemos nem como ajeitar as coisas”, diz. Por hora, ele espera que alguém tome a iniciativa de definir como a família passará as datas. E quer apenas estar na companhia do pai, o comerciante Elídio, e do irmão, Antônio.

O QUE RECOMENDAM OS ESPECIALISTAS
• O primeiro Natal e o primeiro Réveillon são sempre difíceis quando se perde alguém. “São as chamadas crises de aniversário, que se manifestam nas datas significativas e comemoradas em família”, diz a psicóloga Ester Affini, especialista em luto.
• O ideal é passar o Natal e o Ano-Novo como de costume. “A família deve tentar manter os seus rituais. Eles ajudam a sentir-se parte de um grupo e dão segurança”, garante a psicóloga.
n Não dá para fingir que está tudo igual. Por isso, na reunião da família Ester sugere uma homenagem a quem morreu. Alguns fazem orações. É uma forma de abrir espaço para liberar a emoção da perda.
• Não se deve deixar para decidir o que será feito na última hora. Também é importante dividir as atribuições para que ninguém assuma integralmente as tarefas da pessoa que morreu.
n É preciso respeitar o luto e o estilo do outro. “Uns ficam mais tristes, outros ansiosos. As pessoas experimentam a dor de maneira diferente”, afirma Ester.
• Se a tensão aumentar na folga entre o Natal e o Ano-Novo, a saída é usar os seus truques de sempre para relaxar. Malhar, comer, conversar. Vale tudo que você já sabe que lhe dá prazer e alivia o stress.

QUEM VIVE NA MISÉRIA

Para muita gente, a época de Natal e Ano-Novo só provoca tristeza. Como milhões de excluídos, fazem parte deste grupo o casal João Batista Borges, 38 anos, mecânico, e Maria das Dores Oliveira, 40. Há nove anos, eles moram debaixo de um viaduto em São Paulo. Vivem num pequeno cômodo composto por um quarto e banheiro, onde dormem os dois e mais os sete filhos. Na noite de Natal, todos se reúnem. “Penso que não tenho condições de dar para meus filhos o que gostaria. O jantar é feito com alimentos de cesta básica e os presentes das crianças vêm de doações”, conta o pai, o único que trabalha para a sobrevivência da família.

O que você pode fazer

Para amenizar a tristeza de quem passará o Natal com a mesa vazia, uma boa idéia é colocar no carro alguns alimentos – pode ser um panetone ou arroz e feijão – e brinquedos, novos ou usados, e entregar a uma família que vive nas ruas. Com certeza, não será difícil encontrá-la, e com esse gesto você estará levando um pouco de alegria e conforto a quem precisa.

Colaborou: Liana Melo; Produção: Lívia Mund; Modelos: Felipe de Almeida (Ag. Wend Model), Betânia Betcher (Ag. Galeria) e Marco Santoro (Ag. Taxi); Cabelo e Maquiagem: J.R.O. Santos; Agradecimentos: Coven Tricot, Due Fratelli, Beth Salles, Timberland, Pulo do Gato


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