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 O Parlamento grego aprovou nesta quinta-feira (30) a lei de aplicação do ajuste elaborado para evitar a quebra do país, após dois dias de confrontos entre a polícia e manifestantes que se opõem a este plano de cortes e privatizações em massa, que levou o governo a determinar a investigação da responsabilidade da polícia nos atos de violência registrados.

O Parlamento unicameral aprovou na quarta-feira a lei no âmbito desse programa, que prevê cortes de 28,4 bilhões de euros e uma arrecadação de 50 bilhões em privatizações. Nesta quinta-feira, a câmara aprovou a lei de aplicação do plano de ajuste. "Ganhamos uma batalha difícil", comemorou o primeiro-ministro socialista, Giorgos Papandreou.

A União Europeia (UE) anunciou imediatamente após a votação desta quinta-feira que as condições estavam dadas para desbloquear o dinheiro que evitará que a Grécia, um país da zona do euro, se declare em "default". Trata-se de uma parcela de 12 bilhões de euros de um primeiro plano de resgate de 110 bilhões, aprovado em maio de 2010. Espera-se que os ministros das Finanças da zona do euro decidam em sua reunião deste domingo em Bruxelas desbloquear o dinheiro.

Atenas precisa destes fundos para cumprir com vencimentos em meados de julho, mas a UE e o FMI ameaçavam privá-la deste dinheiro se não aprovasse as medidas de austeridade. Para aliviar o fardo da dívida pública grega – 350 bilhões de euros, equivalentes a 150% de seu Produto Interno Bruto (PIB) – a Alemanha promoveu a ideia de que os bancos privados credores de seu país também ajudem a Grécia. Algo que parece perto de se concretizar, já que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, anunciou que os bancos alemães estavam dispostos a renovar empréstimos de 3,2 bilhões de euros em bônus gregos que vencem antes de 2014.

"Consideramos que a Grécia deve ser ajudada (…). Estamos dispostos a fazer isso", disse Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank, maior banco do país. Ele acrescentou que os bancos alemães têm cerca de 20 bilhões de euros para a dívida grega. Esta estratégia segue a traçada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que nesta semana anunciou um acordo com os bancos de seu país, que afirma que eles prolongarão a 30 anos o vencimento de bônus gregos, que expiram em breve.

Esta estratégia é delicada, já que precisa ser feita sobre uma base voluntária para evitar que as agências de classificação de risco indiquem a operação como um "acontecimento de crédito" ou default, precipitando uma enorme crise na zona do euro (formada por 17 dos 27 países da UE).

O ajuste grego caminha ao lado de fortes medidas de austeridade em outros países europeus, como Grã-Bretanha, Itália e Portugal, que já precisou recorrer a um plano de resgate da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nas ruas, prosseguia nesta quinta-feira a difícil tarefa de limpar o centro de Atenas, convertido na quarta-feira, no segundo dia de uma greve geral de 48 horas, em palco de uma batalha campal que deixou centenas de feridos.

O governo ordenou a investigação da participação das forças de segurança na violência, após a divulgação de imagens que mostravam a polícia colaborando com elementos à paisana armados com bastões para dispersar os manifestantes pacíficos. As imagens da rede de televisão também mostraram um grupo de policiais de bicicleta lançando pequenas pedras e bombas de gás lacrimogêneo contra um café no centro de Atenas.

A polícia deve "garantir que o uso da força é proporcional e está dirigido apenas contra os manifestantes violentos", afirmou o diretor para a Europa da Anistia Internacional, John Dalhuisen, em um comunicado. Os arredores do Parlamento pareciam estar em calma nesta quinta-feira, mas uma greve de 24 horas declarada nos portos do país impedia a chegada ou saída de barcos no país.