"Bem que nós podíamos ter a nossa bombinha atômica. Ninguém se mete com a Índia e a China porque eles têm as deles.” O comentário só poderia ser de um militar. No caso, um militar de saias: a primeira voluntária brasileira na Segunda Guerra Mundial, que ostenta 35 condecorações e acaba de lançar seu terceiro livro, Eu estava lá, em português, inglês e italiano, com 700 fotos coletadas no conflito. A major carioca Elza Cansação Medeiros, 80 anos, não acredita em uma Terceira Guerra nem que sejam usadas armas químicas na nova ordem mundial pós-11 de setembro. “Todo mundo dispõe desse tipo de armamento e seria a destruição total. Por trás do pretexto religioso, o que acontece agora é a guerra do petróleo”, acredita.

A militar, que dá expediente diário no setor de Relações Públicas do Ministério do Exército, no Rio de Janeiro, não pára de surpreender. Seu rosto jovem, de aspecto natural, já passou por quatro cirurgias plásticas. “Pendurou, eu estico”, brinca. Há três anos, teve de dar um tempo em seu hobby predileto, o ultraleve. “Estou com 80 quilos e preciso emagrecer para voar com segurança”, explica. Há cinco anos, desistiu de usar motocicleta para distâncias curtas porque não conseguiu renovar a carteira. Já deu duas voltas ao mundo e é sócia dos albergues da juventude para viajar a preços acessíveis. Seu apartamento, no Flamengo, zona sul do Rio, mais parece um museu, com os bustos de bronze que ela mesma esculpiu. Inclusive o seu. A única queixa é a coluna, que até hoje se ressente de uma queda na cratera de uma granada, em 1944, quando participava da campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. O acidente lhe rendeu a promoção a major, dois postos acima.

Quando foi à guerra, em 1943, aos 22 anos, indignada com os torpedeamentos de alemães sofridos pelo Brasil, entrou como enfermeira de terceira classe. Foi promovida à primeira classe, correspondente a capitão. Mas, quando desembarcou no Brasil, o tempo que passou nos hospitais de campanha, cerca de um ano, de nada valeu. “Fomos desmobilizados, porque o ditador Getúlio Vargas, admirador de Adolf Hitler, temia que a tropa se voltasse contra ele”, lembra. Elza, que antes de entrar para o Exército tinha uma vida confortável, com motorista particular desde os 12 anos, partiu então para um concurso no Banco do Brasil, aos 24 anos, onde ficou até 1957, quando voltou ao Exército.

Na época do golpe de 1964, retornou ao banco até ser requisitada para trabalhar como secretária do ex-presidente João Baptista Figueiredo, de quem era aparentada. “Ele ficava furioso quando o chamava de Joãozinho”, diverte-se a major, sem vergonha de se identificar com a linha dura. “Sou anticomunista até a alma.” Como diz ter sido criada com muito senso de liberdade pelo pai médico, Elza jamais se casou ou namorou por muito tempo. Em compensação, cada vez que resolve viajar é só fazer as malas e bater a porta. “Não tenho gênio para receber cabresto”, vangloria-se.