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Noveleiro dos bons, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu em sua coluna no “Jornal do Brasil”, nos anos 1970: “Agora que ‘O Astro’ acabou, vamos cuidar da vida.” O comentário espirituoso fazia referência ao final de uma das mais bem-sucedidas telenovelas da Rede Globo, escrita por um mestre do gênero, Janete Clair. Pois bem: três décadas após ser um grande fenômeno de audiência, “O Astro” está de volta à televisão – mas numa versão modernizada, não numa reprise. Com a justificativa de celebrar os 60 anos da teledramaturgia brasileira, a Globo exibirá, a partir da terça-feira 12, às 23h, um remake da novela, que trará agora Rodrigo Lombardi no papel do vidente Herculano Quintanilha, antes vivido por Francisco Cuoco. Para quem não era nascido ou era muito pequeno em 1977, ano em que o original foi ao ar, vale dizer que até o então presidente da República, o general Ernesto Geisel, acompanhou o último capítulo para saber quem matara o empresário libanês Salomão Hayala, o outro protagonista da história cujo assassinato gerou um clima de suspense inédito. “É segredo de Estado”, respondeu com humor o diretor Daniel Filho ao ser questionado pelo presidente.

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TRUQUES
Lombardi e Carolina farão um par romântico. Cuoco será professor de mágica
 

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Apesar de muita gente saber quem deu fim no antigo Salomão Hayala, hoje vivido pelo mesmo Daniel Filho, o sigilo vai continuar na versão: o assassino do libanês poderá ser outro personagem e não o amante de sua mulher. “Temos dez suspeitos”, diz Geraldo Carneiro, sem maiores pistas. Ele assina o texto com Alcides Nogueira e conseguiu um trunfo: resumir a história em apenas 60 capítulos, mais do que uma minissérie, menos do que uma novela. A estreia no meio do ano também está fora dos padrões da emissora. “É uma aposta em um novo horário e um novo formato. Queremos trazer o público da minissérie, que prefere ver uma obra feita com mais cuidado, e também aproximar o público de novela, que gosta de acompanhar por um tempo maior a história”, diz o diretor-geral Mauro Mendonça Filho.

Outra novidade é que, em razão do horário, as cenas de sexo serão mais apimentadas. “Antes, quando o casal sentava na cama, era preciso cortar a cena e mostrar o céu. Agora podemos deixar rolar”, acrescenta Carneiro.
A propósito: o Professor Astro se envolve com a arquiteta Amanda, vivida, desta vez, por Carolina Ferraz.

A ambiguidade do protagonista foi mantida. Diz Lombardi: “Não se sabe se ele é um oportunista ou se tem mesmo poder.” Cuoco também estará no elenco como Ferragus, o mestre de ilusionismo de Herculano, que o surpreenderá com aparições: “O espectador não vai saber se a cena é concreta ou uma imaginação”, afirma o ator veterano. Graças à tecnologia, as imagens de ambos, adornados com o clássico turbante e maquiagem brega, se fundirão na tela. Os efeitos especiais terão papel importante na versão, especialmente nos shows do Professor Astro. “Vai ter mágica de verdade”, diz Lombardi, que aprendeu alguns truques. Outra modernização foi localizar a história no bairro da Penha, região ocupada por forças de segurança, em lugar do Engenho Novo. A marca da novela, no entanto, continuará sendo “o amor derramado”, como ressalta Carneiro. Bem ao espírito do tema de abertura, o bolero “Bijuterias”, de João Bosco. 

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