A maratona antiglobalização vai começar. Sob o lema “Um outro mundo é possível”, a segunda edição do Fórum Social Mundial (FSM) levará à capital gaúcha, de 31 de janeiro a 5 de fevereiro, mais de 40 mil pessoas, estimam os organizadores. Intelectuais de primeira grandeza de todos os continentes, especialistas nos mais variados assuntos, políticos, estudantes, militantes de causas diversas, representantes de Organizações Não-Governamentais (ONGs), todos terão muita coisa a dizer em Porto Alegre.

E a ouvir. Serão dezenas de seminários e debates, centenas de palestras, conferências, atos públicos, isso apenas no programa oficial. Aproveitando a deixa, muita gente irá ao fórum para mostrar seu talento. Vários livros serão lançados e uma série de shows estão programados. O roteiro é para lá de extenso e a melhor maneira de se guiar nesse cipoal é dar uma olhada no site do FSM – www.forumsocialmundial.org.br. Mesmo quem não vai a Porto Alegre poderá encontrar ali vários textos que servirão de base para as discussões.

Lançado no ano passado por uma dezena de ONGs, o Fórum de Porto Alegre nasceu com a intenção de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial, que acontece anualmente na cidade suíça de Davos desde 1971. No silêncio dos Alpes, altos executivos das maiores corporações do planeta, presidentes, ministros, intelectuais e outros poderosos do mundo dos negócios discutem a melhor maneira de pôr em prática suas idéias liberais. Defendem com unhas e dentes as forças do mercado como o caminho mais rápido e eficiente para as sociedades enriquecerem e progredirem. Neste ano, foi transferido para Nova York (nos mesmos dias do evento de Porto Alegre), numa demonstração, dizem os seus organizadores, de solidariedade. É certo que facilitará a vida de muitos de seus participantes, profissionais de Wall Street. Volta a Davos a partir de 2003, garantem, quando o Fórum Social deverá acontecer na Índia.

No amplo espectro de temas que serão abordados no “anti-Davos” deste ano fica difícil destacar apenas alguns. Os atentados de 11 de setembro e seus reflexos sobre a política internacional certamente aparecerão. A ofensiva militar comandada pelos EUA, idem. A crise institucional que a Argentina atravessa – resultado direto, para muitos, de seu alinhamento às teorias defendidas pela turma de Davos – também estará presente. Bem como os usos da engenharia genética, o papel da mídia na sociedade, a “privatização” de bens essenciais como a água, a reforma agrária e o direito a indenização de negros e indígenas. E muitos, muitos outros assuntos. Como definiu o linguista americano Noam Chomski, uma das personalidades confirmadas para ir a Porto Alegre: “É uma reunião de organizações populares cuja imagem de como deveria ser a sociedade é diferente da deles”. Deles, dos figurões de Davos.