A onda de violência está levando empresas de médio e grande porte a dar maior atenção à segurança de seus funcionários. Antes um assunto restrito a chefes de nível médio, o profissional responsável por zelar pelo bem-estar do pessoal ocupa agora o posto de diretor. Contratado há cerca de dois meses pela subsidiária de uma grande multinacional, baseada em São Paulo, um ex-militar e especialista em segurança prefere manter-se incógnito. Tem o currículo do novo tipo de profissional que cada vez mais atua na área. Fala várias línguas, já morou no Exterior e tem experiência em empresas especializadas em segurança e investigações.

Sua função é cuidar de todos os assuntos relativos à segurança de diretores e profissionais de gerência. “A maioria das empresas zela por seus profissionais apenas durante o expediente. Agora as coisas estão mudando”, diz o especialista.

Segurança custa caro e, trocadilho à parte, é um negócio de risco. Nenhum equipamento e nenhum tipo de esquema garantem 100% de proteção. “Além do custo direto investido em aparatos, as empresas perdem dinheiro com a queda na produtividade dos funcionários envolvidos em casos de violência”, diz James Wygand, diretor no Brasil da Control Risks, uma das principais empresas de segurança do mundo. O medo está levando empresas brasileiras a táticas incomuns, segundo ele, como a restrição da vinda de executivos do Exterior para cá ou mesmo a transferência do corpo de profissionais de elite para locais mais tranquilos. A frota de carros fortes passou por um processo de reforço na blindagem, nos últimos quatro anos. Hoje, todos eles aguentam até balas disparadas por um fuzil AR-15. Seminários sobre segurança pessoal já são comuns nas grandes empresas, assim como os carros blindados. Tudo isso, obviamente, leva a gastos adicionais. Só para comprar uma frota de oito blindados, uma empresa desembolsa, em média, R$ 1 milhão.

Não existem estatísticas confiáves de quanto o País gasta com segurança. Mas, a julgar pelo vigor dos negócios ligados à área, não é pouca coisa. Uma feira do setor, a Exposec, já é a quinta maior do mundo. Movimentou no ano passado, de acordo com seus organizadores, US$ 320 milhões. Nesse ranking sombrio, o Brasil já tem a segunda frota de carros blindados e de helicópteros civis do mundo. O mercado de blindagem é disputado por 50 empresas, todas surgidas nos últimos cinco anos.

Só o setor de vigilância movimentou, no ano passado, R$ 7,8 bilhões, segundo o Sindicato das Empresas de Segurança Privada de São Paulo – o dado exclui as companhias clandestinas. “Até 1996, quem podia pagar contratava dentro da lei. A partir daí, a informalidade tomou conta do mercado”, diz José Jacobson Neto, presidente da entidade. “Para cada companhia regular, existem de três a cinco informais”, estima o empresário, que calcula em 1,3 mil as empresas oficiais. Elas empregam 500 mil homens. Estima-se que, pelo menos, outros 800 mil vigilantes sem registro estejam na ativa no Brasil. Esse exército ocupa um espaço criado pela ausência do Estado e pelo aumento da miséria. E tem perdido a guerra.

O seguro anti-sequestro

Quem tem não fala. Quem vende se esconde. A atividade é quase virtual, de tão sigilosa, mas o fato é que um número incerto de brasileiros endinheirados possui uma apólice de seguro anti-sequestro. A legislação nacional impede a existência de um produto desse tipo no País. “O negócio é sempre feito via paraísos fiscais”, diz o especialista em seguros Antônio Penteado Mendonça, que afirma desconhecer quais empresas atuam no Brasil. Os principais clientes, segundo Mendonça, são grandes companhias multinacionais instaladas no país, que fazem pacotes de seguros para seus principais executivos. Assim que um cliente é capturado, uma equipe da seguradora assume as negociações. Recentemente, um caso já encerrado em São Paulo foi resolvido por equipes que vieram do Exterior. O serviço inclui, é claro, o pagamento do resgate, mas não se limita a isso. Em alguns casos, a seguradora dá uma de polícia e corre atrás dos bandidos por conta própria.