Um assassinato, um mistério e um casamento (Objetiva, 104 págs., R$ 16,90) nasceu como uma brincadeira entre amigos de seu autor, o americano Mark Twain (1835-1910), que pretendia convencer outros escritores da época a darem sua própria versão do enredo básico proposto pela obra. Conta a história do fazendeiro da pequena cidade de Deer Lick, que sonha em casar sua filha com um milionário, mas vê a família envolvida no assassinato de um tio rico, aparentemente cometido pelo pretendente pobre da jovem. A trama deveria receber novas abordagens. Mas, infelizmente, nunca aconteceu. Abandonada pelos editores, acabou sendo esquecida em alguma gaveta por mais de 100 anos. Só com o desenvolvimento de um programa de recuperação das obras de Twain, realizado durante as últimas décadas por estudiosos americanos, é que foi recuperada e lançada no mercado.

Ao contrário do que se poderia imaginar, contudo, não se trata de um livro menor do prolífico Samuel Langhorne Clemens, nome real de Mark Twain. Embora seja uma peça concisa, ela é uma perfeita síntese dos elementos que constituem o trabalho do escritor nascido em 1835, no retrógrado Estado do Missouri, sul dos Estados Unidos. A intolerância, a hipocrisia social e o sarcasmo com que tratou seus concidadãos estão presentes, fazendo da leitura, além de um grande prazer, um exercício de reflexão sobre a enorme capacidade humana de protagonizar bobagens em nome das aparências e das conveniências sociais.