Quando decidiu, em uma jogada de marketing, mandar um astronauta ao espaço, em 1997, o governo Fernando Henrique Cardoso ao mesmo tempo cortava drasticamente a verba de seu programa espacial, reduzida a menos de US$ 30 milhões. No ano seguinte, quando o brasileiro Marcos Pontes deveria subir à Estação Espacial Internacional a bordo de um ônibus espacial americano, a verba anual subiu para US$ 130 milhões, quase tudo destinado à estação da qual o Brasil é sócio. Em 1999, um novo corte e a verba ficou em menos de US$ 10 milhões.

O governo Lula decidiu inverter esse quadro e usar o tenente-coronel Marcos Pontes como garoto-propaganda de seu ambicioso programa espacial. Por trás do vôo, negociado na recente visita que o presidente Lula fez a Vladimir Putin, na Rússia, está um programa de pelo menos 15 anos de duração, a um custo estimado em US$ 1,5 bilhão, pouco menos do que o valor destinado às obras de transposição do rio São Francisco.

O programa prevê a construção de satélites de comunicação, controle de tráfego aéreo, sensoriamento remoto e pesquisa, além do projeto e construção de uma família de lançadores de satélite e da transformação da base de lançamento de Alcântara, no Maranhão, em um Centro Espacial capaz de lançar até 20 satélites por ano, com faturamento de US$ 200 milhões anuais.

Aos 42 anos, o primeiro astronauta brasileiro, que hoje treina na Cidade das Estrelas, na Rússia, passou oito anos em preparação na sede da agência americana Nasa, em Houston. A temporada custou R$ 10 milhões aos cofres públicos (cerca de mil casas populares com menos de 40 metros quadrados de área) e por pouco não foi dinheiro jogado fora. Pelo novo acordo, o piloto de jatos de combate deve viajar em abril ou maio de 2006 a bordo de uma nave russa Soyuz, ao custo de US$ 10 milhões (a metade do que os russos cobram de outros países). Sua viagem, no ano do centenário do vôo de Santos Dumont com o 14-Bis, simbolizará o fim do pesadelo de 2003, quando o veículo lançador de satélites VLS-1 explodiu, matando 21 cientistas e engenheiros em Alcântara.