O plano de reequipamento já está pronto desde o final do governo Fernando Henrique Cardoso. O valor, US$ 7 bilhões, a serem gastos em 18 anos, a contar de 2002. Mas a realidade da Marinha brasileira é bem diferente. Com os recursos cronicamente contingenciados – até o final do ano, já deveriam ter sido investidos cerca de US$ 3 milhões –, nenhum dos principais pontos do programa, que colocaria a Força Naval em condições de realmente defender o litoral brasileiro e os 4,5 milhões de quilômetros quadrados da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e do prolongamento da Plataforma Continental (a chamada Amazônia Azul), foi iniciado. O País está precisando de novas fragatas, de mais corvetas e navios-patrulha, de novos helicópteros e de modernização ou substituição dos A-4 Skyhawk que equipam o porta-aviões São Paulo. No geral, toda a esquadra vai precisar de modernização nos próximos anos, o que está previsto no plano.

A situação é mais crítica com relação aos submarinos. O Tikuna, versão maior e mais rápida do que os quatro da classe Tupi (projeto alemão, o IKL-209, adaptado depois no Brasil), depois de mais de sete anos em construção, quando mais parecia uma interminável obra de igreja, só deverá entrar em serviço em dezembro. Pelo programa original, ele teria um irmão, mas a Marinha desistiu de construí-lo para partir logo para o chamado Submarino Médio Brasileiro (SMB), com oito metros de diâmetro, dois a mais que a classe Tupi, e 67 metros de comprimento. Mais importante: será construído com casco duplo, exigência fundamental para a construção de um futuro submarino nuclear. O SMB (a idéia é fazer dois) já deveria estar em construção no Arsenal de Marinha, onde foram construídos três da classe Tupi e o Tikuna. Cada ano de atraso complica a situação. A Venezuela, por exemplo, que tem submarinos IKL-209 semelhantes aos do Brasil, quer trocá-los pelos franco-espanhóis Scorpène, do mesmo tamanho e tecnologia esperados no SMB, que já foram oferecidos ao Brasil, incluindo transferência total de tecnologia. O Chile já comprou dois, enquanto a Índia vai construir nada menos que seis. Pelo programa original da Marinha, US$ 400 milhões seriam gastos no submarino nuclear, que já consumiu quase US$ 1 bilhão no desenvolvimento dos reatores, em componentes e no projeto.

No que se refere aos demais navios de superfície, a situação das seis fragatas
da classe Niterói, construídas nos anos 70, é até boa. O programa de modernização está quase no final e, embora de desenho antigo para os padrões de hoje, passaram a ser equipadas com o que há de mais moderno em termos de equipamentos eletrônicos e armamento. Já a classe Greenhalgh está começando
a sentir os efeitos do dinheiro curto. Uma, a Dodsworth, foi desativada no ano passado, transformando-se em uma espécie de depósito de peças de reposição para as três restantes.

As quatro corvetas da classe Inhaúma, também projeto brasileiro, deveriam ter sido acompanhadas por um número igual da classe Barroso, que é um modelo um pouco mais comprido. A Barroso segue em construção, no mesmo ritmo de obra de igreja do Tikuna, e, se não houver dinheiro, a nova classe pode ficar em uma só. Dos contratorpedeiros classe Pará (tipo Garcia, comprados dos EUA) hoje sobrou apenas um. Faltam também pelo menos dez navios-patrulha da classe Grajaú para fazer o patrulhamento diário das costas e dos campos de petróleo.

Mesmo quando se analisa a situação do São Paulo, navio-aeródromo francês dos anos 60 e altamente operacional, é preciso uma modernização dos jatos A-4 Skyhawk ou sua troca pelos Rafale franceses ou os russos Sukhoi-30. E os veteranos helicópteros de ataque Sea King devem ser trocados ou passar por ampla modernização. E é imprescindível que a Marinha disponha de aviões-radar (ou helicópteros) para ter a arma decisiva em uma guerra, a detecção à distância do inimigo, especialmente aviões equipados com mísseis. Radar para isso já existe, o mesmo que equipa os aviões da Embraer usados no projeto Sivam/Sipam. Mas, sem dinheiro, nada vai acontecer.