Os médicos não têm mais dúvidas. As chances de cura de uma doença aumentam quando ela é descoberta precocemente. Para alcançar o objetivo, a ciência investe na criação de exames avançados, capazes de identificar lesões milimétricas no organismo que antes não eram vistas. Uma das mais recentes armas é uma pequena cápsula semelhante a um comprimido que, depois de engolida, faz uma verdadeira viagem pelo corpo. Por meio de um mecanismo sofisticado, ela fotografa o caminho por onde passa – boca, esôfago, estômago, intestinos delgado e grosso e reto – para checar com precisão se há algum problema. No Brasil, a invenção está sendo usada no Hospital Nove de Julho, de São Paulo.

A cápsula tira duas fotos por segundo de cada parte do corpo por onde passa. Após oito horas de procedimento – tempo que o artefato permanece no organismo –, são registradas 56 mil fotografias. Sensores colocados na barriga do paciente captam as imagens, que são armazenadas num microcomputador, parecido com um gravador, preso num cinto fixado na cintura. Depois, as informações são transferidas para uma central informatizada, onde poderão ser vistas e analisadas pelos médicos (leia mais detalhes de seu funcionamento no desenho ao lado).

A principal vantagem do exame é investigar por completo a situação do intestino delgado. “Antes, nenhum método conseguia analisar todo o órgão”, afirma Artur Parada, gastroenterologista do Hospital Nove de Julho. Por causa disso, era preciso usar vários métodos, como raios X, para saber se havia algo errado na região. O aposentado paulista Gilson Falqueiro Naufl, 48 anos, foi o primeiro brasileiro a tomar a cápsula. Os médicos queriam investigar as causas de um sangramento. Depois do exame, ele não tinha reclamações. “Foi como se tivesse engolido um comprimido”, conta.

O novo exame também é eficaz na detecção de doenças dos outros órgãos que fotografa. A cápsula consegue ver, por exemplo, se há algum problema no intestino grosso. Porém, dependendo da situação, às vezes os métodos tradicionais dão melhores resultados. É o caso da endoscopia, para analisar as condições do estômago. O exame consiste na colocação de um tubo que vai da boca ao órgão, a fim de detectar se existe lesão na sua parede. “Conseguimos manusear esse tubo por toda a região, enquanto a cápsula não permite o mesmo”, explica Galvão Neto, gastroenterologista e integrante da equipe do hospital.