"Ou estão conosco ou estão contra nós.” A frase do presidente George W. Bush, exigindo apoio contra o terrorismo depois do atentado do dia 11 de setembro parece estar sendo seguida à risca pelo Paquistão, país de maioria muçulmana. Com uma atuação sem precedentes na história deste país, o presidente paquistanês, general Pervez Musharraf, apertou a mão do primeiro-ministro indiano Atal Behari Vajpayee num encontro, no sábado 5, em Katmandu, no Nepal, e anunciou uma série de medidas para reprimir os movimentos radicais islâmicos. Em discurso em rede nacional, Musharraf disse que iria banir cinco grupos extremistas e monitorar de perto seus militantes. Desde então, mais de dois mil ativistas islâmicos, incluindo membros dos grupos Jaish-i-Mohammad e Lashkar-i-Toba, acusados pela Índia de ser os responsáveis pela atentado contra o Parlamento indiano em dezembro, foram presos. Líderes religiosos muçulmanos e cerca de 11 mil estudantes estrangeiros das madrassas (escolas que ensinam o Corão) estão sob a forte vigilância da polícia paquistanesa. Essas escolas saltaram de 1,7 mil em 1999 para 15 mil hoje e tornaram-se centros de formação de combatentes muçulmanos, como os do Taleban. Até o dia dos atentados, o próprio presidente paquistanês apoiava os seguidores de Osama Bin Laden.

A mudança dos ventos políticos do Paquistão chega a ser abrupta. Musharraf afirmou que daqui para a frente a disputa da Caxemira terá tratamento prioritariamente político, não militar. Das quatro guerras entre indianos e paquistaneses, três foram pela posse da Caxemira, região de maioria muçulmana localizada no Himalaia que se espalha entre Índia, Paquistão e China. O conflito teve início em 1947, quando o Reino Unido se foi e o vice-reinado da Índia se dividiu entre dois Estados: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, majoritariamente islâmico. Em 1989, grupos muçulmanos na Caxemira indiana iniciaram um movimento separatista, exigindo a anexação do território ao Paquistão. A guerra já matou mais de 30 mil pessoas.

Atrás da atitude de Islamabad está o dedo de Washington. O secretário de Estado americano, Colin Powell, visitou a região e elogiou a linha dura de Musharraf, chamando-o de “audaz e fundamental”. Mas o general, que assumiu o poder em 1999 através de um golpe de Estado, terá que convencer os paquistaneses que não está agindo sob pressão de Nova Délhi, uma vez que o governo indiano condicionou a extradição de 20 integristas de uma lista enviada a Islamabad para a retomada do diálogo com o Paquistão.

Musharraf também disse que seu país deve ser “modernizado e não se tornar um Estado teocrático”. Os extremistas muçulmanos prometeram inflamar o país. “Aprendemos as lições do al-Qaeda e Taleban. Não vamos repeti-las no Paquistão. No futuro, todos os ativistas estarão de nomes trocados”, afirmou o ex-estudante da Universidade de Karachi, Abu Hafsa, 22 anos, mais um dos jovens que se juntaram a Jaish-i-Mohammad. Ele já participou de cinco combates contra a Índia. Esses jovens paquistaneses estão muito mais preparados do que os milicianos afegãos. Eles se comunicam com outros radicais pela internet e por celular. Segundo o governo paquistanês, eles formam uma milícia armada de cinco mil homens que podem fazer um bom estrago. Resta saber se Musharraf terá força suficiente e o apoio das Forças Armadas para dar continuidade a seu plano de ação à Bush.