A televisão descobriu o que a propaganda está cansada de escancarar: mulher bonita dá audiência. Com todos os ingredientes dos concursos de miss, mas com um apelo, digamos, mais fashion, neste domingo, a Rede Globo leva ao ar a primeira eliminatória do concurso Top Model. Trata-se de uma maratona que, se não exige as peripécias de No limite e Casa dos artistas, é tão concorrida como. Em uma semana, 20 mil garotas enviaram cartas e fotos para a emissora. Apenas 70 delas serão selecionadas. A cada domingo, dez meninas serão apresentadas e só uma entre elas será escolhida para ir à grande final, em 24 de março. A expectativa da tomada das medidas, a turbinada no visual, a ansiedade pré-desfile e até o choro pela desclassificação serão exibidos em horário nobre.

Top Model segue os mesmos moldes de concursos como o Supermodel of the world, transmitido pela MTV, e do controverso Riachuelo Mega Model, da Rede TV!, que em novembro passado atraiu dez mil garotas num único dia à porta da agência Mega, em São Paulo. Criado para alavancar a audiência do Fantástico, pega carona na supervalorização da carreira de modelo no Brasil. Se nos dois primeiros a garotada era atraída pela possibilidade de ganhar prêmios de até R$ 150 mil e assinar contrato com uma grande agência, no da Globo o apelo é pela fama instantânea. Além de ser contratada pela Mega, a vencedora vai fazer uma ponta na novela Desejos de mulher, que estréia na segunda-feira 21. O apresentador Zeca Camargo diz que a emissora estudava a idéia desde que Gisele Bündchen tornou-se fenômeno, há dois anos. “Ser modelo é o sonho de toda menina. Além do reconhecimento da beleza, o concurso traz a possibilidade de uma carreira”, afirma Camargo.

Flashes – Com 1,70 m, olhos azuis e cabelos à Gisele, a paulista Mônica Pedro entrou no concurso pensando nos flashes. Aos 17 anos, já acumula certa experiência em concursos. Em outubro, havia ficado entre as 80 finalistas no da MTV. Também inscrita no da Rede TV!, acabou entre as dez primeiras finalistas do Top Model. “Não sou alta, mas acho que, se aparecer na televisão, terei chance”, argumenta.

O publicitário Flavio Rezende, diretor de mídia da agência DPZ, explica que a estratégia de concursos como esse é justamente criar empatia com o público jovem. “É verão, a moçada está toda disponível e a briga pela audiência, brava. Além de atrair a atenção dessas meninas, capitaliza o lançamento da novela que fala de moda e mulher”, diz. José Wilson Fonseca, diretor de marketing da MTV, afirma que o “clima de quem vai ganhar” cativa espectadores por meses a fio. “As pessoas querem ver gente bonita na tevê. Ainda mais se a idade das modelos tem a ver com a da audiência”, aponta.

Por isso mesmo, há quatro anos a Ford Models realiza seu Supermodel of the world em parceria com a MTV. O concurso é lançado em fevereiro e até outubro a emissora exibe cerca de 300 chamadas, entre anúncios, coberturas das eliminatórias e um programa exclusivo sobre a final. No ano passado, 240 mil jovens se inscreveram. Outras 80 mil, indicadas por olheiros, também participaram. De olho nessa audiência, empresas desembolsaram R$ 4,2 milhões para se aliar ao concurso. Com oito chamadas diárias, além de merchandising na novela e no Fantástico, Top Model deve ter um só patrocinador, que investirá R$ 2,75 milhões.

Liliana Gomes, diretora do Elite Model Look, que revelou Gisele Bündchen, Fernanda Tavares e Raica de Oliveira, explica que, hoje, os concursos de modelos são o ganha-pão das agências. “É com o dinheiro dos patrocínios que elas garantem seu faturamento. Todas mantêm caça-talentos para descobrir meninas que realmente importam”, diz. Só a Elite mantém 180 olheiros em 90 cidades diferentes. Em troca de prêmios e comissões sobre os cachês das novatas, eles apontam as new faces com chance de decolar.

Proveito – Descoberta por um desses caça-talentos, a top paulistana Luciana Curtis emplacou depois de aparecer no extinto M.Officer Exportação, em 1991. Hoje, aos 25 anos, sustenta uma carreira de sucesso que inclui um contrato de US$ 1 milhão com a Revlon. Mas, sem meias-palavras, critica a onda de concursos televisivos. “Ser modelo, no Brasil, virou algo tão importante quanto ser atriz. O meio da moda ficou em destaque, a televisão tira proveito”, diz.

Liliana Gomes faz um cálculo realista: “De cada dez novas modelos que vencem um concurso, só duas vão permanecer na carreira ao fim de um ano e só uma vai estar na agência dois anos depois.” Caroline Ribeiro, o rosto de US$ 6 milhões da Revlon, dá testemunho disso. Primeiro lugar no concurso da Elite em 1995, durante dois anos, não conseguia trabalho – os clientes diziam que era dentuça e magra demais. A mudança para Nova York e um contrato com a agência Marilyn reverteram o jogo. “O concurso ajuda a descobrir novos rostos, mas o sucesso depende do trabalho da agência, da determinação e da persistência da modelo”, ensina Caroline.