O Rio de Janeiro, em pleno verão pré-carnavalesco, o endereço de maior concentração de chorões por metro quadrado. Não importa onde. Quem quiser se divertir no Rio vai dar de cara com algum evento com o ritmo que choraminga em violões e cavaquinhos. Quem puxa o movimento, chamado de Choro Novo, são jovens encantados em ouvir ou tocar clássicos como Brasileirinho, de Waldir Azevedo. “Antigamente era apreciado em silêncio. Hoje, até pelo uso da amplificação em shows, todos dançam, é uma festa”, descreve Marcelo Gonçalves, do Rabo de Lagartixa. Com nome de conjunto de rock, aparência muderna e idade entre 20 e 29 anos, a banda arrasa tocando chorinho em bares ou quiosques da Lagoa Rodrigo de Freitas ou da praia.

Na Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema, zona sul, acontece o Sarau de Laura às terças-feiras. A cena é estimulante: a platéia assiste aos shows contemplando a praia de Ipanema por um janelão de vidro atrás dos músicos. Outro evento forte é o Quint’Acústica, no Museu do Primeiro Reinado, em São Cristóvão, zona norte, que conta até com a presença de Yamandú Costa. Produtora dos dois eventos, Júlia Peregrino acomoda 100 pessoas em 70 lugares. “Muitos são jovens. Acho que estão se cansando de barulheira”, arrisca ela. Diretor do Sarau e da Quinta, Maurício Carrilho (sobrinho de Altamiro) não se espanta com a onda. “É um ciclo que se repete. É a chegada de uma nova leva.”

Na Lapa, point jovem do centro, os shows acontecem em bares como o Semente e o Carioca da Gema, lotados. Às quartas-feiras, O Museu da Imagem e do Som promove a Roda do choro, gratuito, com gente acomodada em mesinhas nas calçadas entre as casas de espetáculo Cecília Meireles e Asa Branca. Ao som de clássicos de Chiquinha Gonzaga, Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Radamés Gnattali, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazaré e sob os arcos da Lapa, a vida fica, se não mais bonita, bem mais poética.

O choro apareceu na segunda metade do século XIX como uma corruptela da polca. Era tocado por gente simples e ganhou este nome por ter um som mais chorado. Hoje é ensinado em universidades. A Oficina do Choro, curso da UFRJ, preenche todas as vagas com alunos de 12 anos em diante. Um dos mais atuais compositores do gênero, o maestro e arranjador Wagner Tiso, planeja gravar um disco só com seus próprios choros. Enquanto isso, quem quiser se deliciar com um álbum sobre o gênero tem uma boa opção: Mulheres do choro, recém-lançado, que reúne 14 obras de musicistas de várias gerações. É show!