Albert Einstein diria que o incompreensível na natureza é que ela é compreensível. Há 400 milhões de anos, as aranhas – do grupo dos aracnídeos, ao qual pertencem também os escorpiões, os carrapatos e os ácaros – tecem dia e noite, com uma sabedoria intrínseca e impressionante geometria, a teia de fios de seda que utilizam para encapsular suas presas. Os três primeiros fios que sustentam a “renda” formam um Y. Como se desenrolassem um novelo, as aranhas vão unindo a esse eixo, nos sentidos horário e anti-horário, outros fios, enredando-se neles para compor raios, espirais e a moldura de sua rede. Cinco vezes mais resistente que o aço e mais elástica que o náilon, ela pode deter uma abelha voando a 30 quilômetros por hora sem se quebrar sobre o próprio peso. Rígidos e leves, os fios são constituídos de uma proteína que se solidifica no contato com o ar e é expelida por uma glândula localizada no abdome do bicho, onde também fica parte de seu sistema nervoso.

Considerado o “Santo Graal” da indústria de fibras, o segredo da aranha foi desvendado e copiado. Genes responsáveis pela produção da seda foram isolados e inseridos em hamsters e vacas para que seu leite pudesse produzir a milagrosa proteína. Ela foi então purificada, colocada numa solução aquosa e alongada em finíssimas linhas de seda. Desenvolvida em parceria pela empresa canadense de biotecnologia Nexia e pelo exército americano e divulgada na revista científica Science, a teia feita pelo homem já tem até nome comercial, Biosteel, e deverá ser aplicada na fabricação de uma série de produtos, desde fios de sutura médica até linhas de anzol e colete à prova de balas. Para a produção em escala comercial, genes da aranha foram colocados em cabras.“É incrível que um animal tão pequeno possa criar um material tão fantástico usando apenas blocos de aminoácidos, os mesmos que compõem nosso cabelo e pele”, empolga-se o presidente da Nexia, Jeffrey Turner. Ele explica que a teia sintética leva a vantagem de ser “ambientalmente amigável”. É biodegradável e não carrega solventes agressivos, comuns na fabricação de fibras sintéticas.

As aranhas surgiram como animais aquáticos. Para conquistar o meio terrestre, as brânquias (órgão que propicia a respiração na água) foram substituídas por pulmão e traquéia. O corpo ganhou uma cobertura espessa, glândulas para a produção de seda e, em algumas espécies, de veneno. O macho também usa a teia para depositar o esperma. A habilidade proverbial das aranhas consagrou um dos mais populares super-heróis das histórias em quadrinhos: o homem-aranha. De seus pulsos saíam fios que o ajudavam a saltar prédios e a rastejar nas paredes. Com a mágica descoberta e sem direito à patente, espera-se, ao menos, que as aranhas sejam preservadas da extinção


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias