Há cerca de 15 anos, era comum encontrar no pulso dos jovens brasileiros um enorme relógio esportivo, com cronógrafo e resistente a centenas de metros de profundidade. Era moda. Foi a época áurea da japonesa Citizen, com a linha esportiva Promaster, e de tantas outras com fábrica no País. Naqueles idos, a produção da unidade de Manaus da Citizen era três vezes maior do que a de hoje. O tempo passou, os relógios grandes saíram de moda (substituídos pelos esportivos da Nike) e a pirataria invadiu de vez o mercado. Nesse cenário, a Citizen pode ser considerada uma sobrevivente, já que é a única multinacional de relógios com fabricação no Brasil. A Seiko, a Timex e a Swatch saíram (elas têm somente distribuidores que representam a marca) e a Orient paga royalties à matriz no Japão. Não satisfeita em apenas fazer figuração, a empresa quer crescer e voltar a ser o que já foi no País.

Encarregado pela matriz de cumprir essa missão, o japonês Hiroshi Seshime desembarcou no Brasil em meados do ano passado para assumir a presidência da filial brasileira. “Percebendo que os mercados europeu, japonês e americano estavam saturados, a matriz decidiu concentrar esforços no chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e aumentar a venda nesses países”, comentou Seshime. Para isso, a empresa pretende investir mais de US$ 1 milhão em marketing e propaganda para agregar mais valor à marca. Nos planos também estão a saída do segmento popular, o aumento da presença no mercado feminino e a busca dos clientes dispostos e desembolsar entre R$ 500 e R$ 3 mil por um relógio. Para o presidente, o maior aliado nessa missão será a qualidade de seus produtos. “Um relógio normal, popular, tem menos de 100 peças. A Citizen tem modelos cronógrafos com mais de 300 peças e tecnologia Eco-Drive, que dispensa a bateria”, afirma o japonês, orgulhoso.

Um dos grandes adversários do passado, a pirataria, apesar de ainda preocupar, não tira mais o sono dos executivos da empresa. “A pessoa que adquire o pirata não é a mesma que compra o nosso produto”, diz ele. Além disso, hoje em dia os relógios mais visados pelos falsificadores são os suíços, que podem ser vendidos a um preço bem mais alto. Ou seja, está mais do que na hora de voltar a vender.