A principal perspectiva brasileira neste ano é a de um intenso debate sobre como construir o desenvolvimento. Períodos de crescimento econômico ou de estabilidade de preços não têm mudado nosso rumo de economia em desenvolvimento ou de país subdesenvolvido.

O subdesenvolvimento é uma dinâmica em que as formas de acumulação de capital e de consumo não apenas se revelam socialmente excludentes, ao extremo, como reproduzem a dependência externa em termos técnico-produtivos, financeiros e monetário-cambial. Esses traços constituem realidade histórica que se propaga com o passar do tempo tanto pela “lógica” interna desses países como por sua modalidade subordinada de inserção internacional.

Nas próximas eleições, governistas e oposicionistas terão que se definir sobre os rumos do País, dada a estabilidade de preços. Já se nota que a mensagem do continuísmo não será convincente. A inflação baixa esgotou-se como bandeira diante do crescimento medíocre, do desemprego, da estagnação ou queda dos rendimentos reais, a dependência externa. O clamor nacionalmente majoritário deverá expressar-se não apenas pelo crescimento, mas sobretudo pela mudança no estilo de crescer.

As dificuldades existentes na economia mundial devem reforçar a necessidade de construir nacionalmente um projeto que seja ao mesmo tempo menos vulnerável à instabilidade internacional e participativo das energias construtivas que derivam da interdependência financeira, tecnológica e produtiva entre os países.

Exemplos nacionais como os da Índia e da China e aqueles oriundos da União Européia poderão estimular inovações quanto a formas soberanas e criativas de inserção internacional. O cenário global crítico pressionará os governos dos países para “organizar” as economias, estabelecendo-se maior controle da sociedade sobre a especulação financeira, ou aumentarão as chances de os conflitos inter-estatais e intercapitalistas intensificarem a “guerra de todos contra todos”.

A conjuntura econômica brasileira poderá ser razoável em 2002, considerando-se a evolução recente do comércio exterior, a folga fiscal que permite liberar o dispêndio público, o espaço existente para a política monetária reduzir as taxas de juros. Mas ela não excluirá a exigência de mudanças na política econômica do próximo governo.

O triste exemplo argentino poderá fragilizar as elites latino-americanas, cujas políticas resguardam seus interesses particularistas e egoístas, sem consideração das necessidades das nações e de seus povos. No Brasil, em particular, crescem as chances de que a superação do subdesenvolvimento seja um objetivo político.

Ensinou o mestre Celso Furtado em seus trabalhos: superar o subdesenvolvimento como realidade histórica significa inventar o próprio destino, criar padrões de acumulação, de consumo, de distribuição e traços culturais que não sejam a mera cópia perversa dos chamados países desenvolvidos.