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Eva doará para Sara. A jovem nasceu sem parte do aparelho reprodutor

Uma mulher gerar um filho no mesmo útero em que ela foi gerada. No que depender dos cientistas coordenados pelo médico Mats Brännström, essa situação se tornará realidade dentro de um ano. O grupo, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, anunciou a realização, em 2012, do primeiro transplante de útero entre familiares. As protagonistas são mãe e filha inglesas. Sara Ottosson, 25 anos, nasceu sem o órgão em razão de uma doença rara, a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser. Sua mãe, Eva, 56 anos, decidiu doar seu útero para a jovem. “Esperamos que essa seja mais uma opção contra a infertilidade”, disse Brännström à ISTOÉ.

O procedimento já foi tentado em 2000, na Arábia Saudita. À época, uma jovem de 26 anos recebeu o útero de outra mulher, de 46. Todavia, após 99 dias, uma trombose nos vasos uterinos obrigou a remoção do órgão. Brännström avalia que, diferentemente dos colegas sauditas, ele e sua equipe estão em situação mais favorável. “Eles tinham à disposição vasos sanguíneos uterinos muito curtos e tiveram de aumentá-los com enxertos com a veia safena”, diz. O mesmo não acontecerá desta vez, acredita o sueco. De acordo com o especialista, no transplante que realizará, seu time estará mais bem capacitado para aproveitar a rede de vasos sanguíneos disponível. Isso é fundamental, uma vez que, além de irrigar o órgão, eles ajudam em sua sustentação – dois pontos cruciais, já que o útero deverá resistir ao peso de uma gravidez e precisa de boa circulação para garantir a chegada de hormônios.

Para assegurar o sucesso da cirurgia, estão escalados seis ginecologistas e dois cirurgiões, além de enfermeiros e anestesistas. A comunidade médica aguarda atenta. “Não é uma cirurgia de muito risco”, avalia Luiz Mathias, chefe da ginecologia do Instituto Nacional do Câncer. Todavia, ele não a indicaria para uma paciente. “Para ter um filho, há um procedimento bem mais simples, que é a barriga de aluguel.” Mauro Bibancos de Rosa, chefe de medicina reprodutiva do Hospital do Coração, em São Paulo, concorda com o colega, mas ressalta a importância científica do procedimento. “Alguém, uma hora, precisaria tentar”, considera. “A paciente está ciente dos riscos, a família aceitou. Agora é esperar e torcer.”   

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