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Depois de uma largada em que arrancou elogios até da oposição, a presidente Dilma Rousseff esteve às voltas, nas últimas semanas, com a crise política que envolveu o principal ministro do governo, Antônio Palocci. Nesse período, em que foi do céu ao inferno, a presidente não esteve solitária, como alguns dizem. Dividiu alegrias, angústias e apreensões com um número restritíssimo de auxiliares e amigos. O chamado grupo dos confidentes de Dilma é formado hoje por cinco pessoas: o chefe de gabinete da Presidência, Giles Azevedo, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o ex-presidente Lula e o ex-marido Carlos Paixão Araújo. Apesar de nunca abrir mão da palavra final, Dilma se aconselha com eles, seja antes de tomar uma decisão importante de governo, seja para desabafar sobre assuntos de cunho pessoal. “É difícil eu abrir coisas pessoais e compartilhar decisões, mas, quando o faço, a pessoa pode saber que ela é da minha inteira confiança”, costuma dizer a presidente, segundo relato de um assessor palaciano.

Os encontros ou conversas reservadas com integrantes do grupo de confidentes ocorrem normalmente, de maneira isolada, no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente, ou por telefone, e não compõem a agenda de compromissos do Planalto. Foi no Alvorada que Giles soube, em primeira mão, da demissão de Palocci dois dias antes do anúncio para a imprensa. Aconselhado, o chefe de gabinete fechou-se em copas até a confirmação. “A situação política se agravou. Não dá mais”, contou Dilma ao seu fiel escudeiro há pelo menos dez anos, não por acaso, chamado de “arquivo vivo” da vida pública da presidente. Nos últimos dez anos, Giles intermediou a maioria dos encontros políticos de Dilma. Hoje, o chefe de gabinete faz a triagem da extensa lista de políticos interessados em ser recebidos por Dilma no gabinete presidencial. O grau de intimidade e confiança é tanto que, em março, quando Dilma tirou férias numa área próxima à Barreira do Inferno, em Natal (RN), Giles foi o único integrante do governo a ser convidado a ir com ela. Ele, claro, atendeu prontamente.

Quem também está sempre a postos para os chamados de Dilma é Fernando Pimentel. Não raro, costuma receber telefonemas da presidente de madrugada. “O que você acha da Gleisi?”, perguntou Dilma a Pimentel numa dessas ligações inesperadas, antes de decidir nomeá-la ministra da Casa Civil. De todos os ministros, provavelmente Pimentel seja o mais próximo da presidente no âmbito pessoal. Ele é amigo e confidente de Dilma desde a ditadura militar, quando dividiram a cela.

Do time feminino na Esplanada, cada vez mais representativo, a ministra Tereza Campelo é a quem Dilma mais recorre. Bastante ligadas desde os tempos de Casa Civil, as duas falam até sobre assuntos prosaicos do dia a dia, como roupas, cabelo e cosméticos. Mulher de Paulo Ferreira, ex-tesoureiro do PT, Tereza foi um dos poucos auxiliares de Dilma que tiveram a liberdade de recusar um convite para um cargo, durante a montagem do governo. Inicialmente, Dilma a sondou para ocupar a Secretaria de Aviação Civil, mas não houve receptividade. “Então, vou dar o principal programa do governo para você gerenciar. E sei que você vai conseguir”, replicou Dilma para a amiga, ao chamá-la para coordenar o “Brasil Sem Miséria”, como ministra do Desenvolvimento Social.

Quando o assunto é estritamente pessoal, porém, Dilma toca o telefone para o ex-marido Carlos Paixão Araújo. Nos momentos de maior tensão, é com ele que a presidente desabafa e busca conselhos. Foi assim quando Dilma soube do agravamento da gripe, há dois meses, transformada em pneumonia. “Presidente tem essa coisa da primeira-dama. Se um dia a Dilma precisar, estarei ao seu lado”, costuma dizer Paixão. De acordo com integrantes do gabinete de Dilma, se Paixão liga, ela atende. E vice-versa. “Eles se falam muito. Mais do que as pessoas imaginam”, confidencia um interlocutor da presidente.

No auge da crise e quando a presidente esteve com a saúde debilitada, a figura do ex-presidente Lula também emergiu na vida de Dilma. Eles passaram a se falar praticamente dia sim, dia não. Normalmente, mantêm conversas semanais. Foi Lula, por exemplo, quem a aconselhou a apostar no diálogo com a base aliada e aparecer mais em público, para tentar recuperar a imagem, desgastada pela forma como conduziu a primeira crise política do seu governo. Sempre que precisar, Lula passará a atuar como seu escudo político. Não há nenhum gesto envolvendo os dois que não seja combinado previamente. “Quem apostar num desentendimento meu com o Lula vai errar”, esbravejou Dilma no início da gestão, quando surgiram rumores de que o ex-presidente estava contrariado com a comparação entre os dois. 

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