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REAÇÃO
Hebe (ao centro) sai de tribunal após acusar ex-protegido

As Mães da Praça de Maio, uma das organizações de direitos humanos mais respeitadas da América Latina, estão no centro de um cambalacho sem precedentes na Argentina.

Conhecidas por se reunir em frente à Casa Rosada, a sede do governo argentino, para reclamar os filhos desaparecidos durante a ditadura militar (1976-1983), elas agora estão às voltas com um desvio milionário de recursos públicos. Assim que um grupo de parlamentares denunciou o esquema, a presidente da associação, Hebe de Bonafini, 82 anos, tentou abafar o escândalo. Na semana passada, porém, Hebe foi a um tribunal acusar o ex-procurador Sergio Schoklender, 53 anos, como o principal articulador da fraude, que teria também a participação de Pablo, o irmão mais novo de Sergio.

“Os Schoklender abusaram da confiança, do afeto, do amor, inclusive, que lhes dedicaram as mães”, disse Hebe. Foi justamente Hebe quem levou os irmãos Schoklender para a associação, por causa de seu vínculo com o mais velho deles, que conheceu durante visitas a um presídio, onde ele cumpria pena pelo assassinato dos pais (leia quadro).

Hebe, que tem dois filhos desaparecidos políticos, se apegou a Sergio Schoklender a ponto de levá-lo para viver em sua casa em 1995, quando ele deixou a cadeia.

Mais tarde, tornou-o procurador das Mães da Praça de Maio, que, desde o governo Néstor Kirchner (2003-2007) passou a receber verbas públicas para aplicar em projetos sociais. O programa continuou no governo Cristina Kirchner, que já repassou o equivalente a US$ 191 milhões à associação. Parte ainda não definida desse montante teria sido desviada para empresas controladas por Sergio Schoklender.
Na associação, o ex-protegido de Hebe coordenava o projeto Sonhos Compartilhados, que inclui a construção de quase cinco mil casas populares. Dono de um patrimônio milionário só revelado nos últimos dias, Sergio Schoklender costumava circular em uma Ferrari e responde agora a um processo por fraude. O escândalo que protagoniza evidenciou a falta de fiscalização de verbas públicas e tem potencial para influenciar as eleições presidenciais, previstas para outubro.

Cristina, que está para anunciar sua candidatura à reeleição, ainda não comentou o caso em público. A imagem de Hebe, por sua vez, ficou tão maculada que a deputada Patricia Walsh reclamou da entrega de um prêmio que leva o nome de seu pai à veterana ativista dos direitos humanos. 

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