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Crise moral, política ou ética? Que nada. Passado o escândalo do mensalão, a lama dos aloprados e as negociatas que incluem os dólares na cueca, a constatação é que no Partido dos Trabalhadores (PT) tudo continua como dantes. Para usar uma expressão muito comum nos discursos da estrela maior da sigla, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o fato concreto é que, passadas todas as turbulências, nada mudou nem vai mudar no PT. Pelo menos no que depender da tendência hegemônica da sigla, o Campo Majoritário, corrente que abriga a maioria dos petistas de alto coturno, como os ex-ministros José Dirceu e Antônio Palocci, o deputado José Genoino, a ex-prefeita Marta Suplicy, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e, claro, todos os parlamentares mensaleiros. A duas semanas de seu III Congresso Nacional – encontro que definirá o rumo do partido para os próximos anos e acontecerá na cidade de São Paulo entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro próximo –, os 934 delegados eleitos nos encontros estaduais da agremiação seguem para o encontro sem muito o que fazer, a não ser a velha prática de bradar contra a mídia, a direita e obedecer aos paulistas do comando central do partido.

Assim, tanto os esperneios das facções de esquerda quanto a idéia de se refundar o partido – defendida por Tarso Genro – e a tentativa de tirar dos paulistas o domínio da agremiação – iniciativa de Jaques Wagner – não prosperaram. As únicas novidades serão a antecipação das eleições para presidente nacional do partido – de agosto de 2008 para este ano – e a presença do presidente Lula no evento. Certamente longe de vaias, o presidente ainda não definiu como será o tom de seu discurso. Mas os petistas do Palácio garantem que a fala dele dependerá do resultado do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de José Dirceu e dos mensaleiros, marcado para ocorrer de 22 a 24 de agosto. “Dependendo do momento político, a participação dele será fundamental”, disse o deputado Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT.

A decisão dos togados sobre a suposta “organização criminosa” influenciará mais no futuro do PT do que qualquer outra coisa. “É evidente que esse julgamento, na mesma época do Congresso do PT, causará impacto e tende a contaminar o debate sobre os rumos do partido”, afirma Francisco Campos, da comissão organizadora do Congresso. “Esperamos que as facções do PT não se aproveitem disso para fazer a luta interna, até porque a defesa do partido também pressupõe a defesa de nossas principais lideranças”, conclui Campos.

É tão importante a decisão do STF que até a composição de forças internas do partido depende da análise da denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que acusa Dirceu de ser o chefe da “organização criminosa” instalada no governo para desviar recursos. Nove em cada dez dirigentes nacionais do PT admitem que, caso Dirceu seja absolvido, ele será o próximo presidente nacional do partido. Fortalecido, o ex-ministro deverá manter o PT sob férrea centralização, como crítico feroz da política econômica, mas aberto a amplas alianças políticas.