Nos dez anos em que esteve longe dos estúdios e das paradas, Stevie Wonder não fez falta. E seus imitadores, claro, deitaram e rolaram. A banda inglesa Jamiroquai, por exemplo, cuidou do lado mais funk com esquenta-pistas ao estilo de Space cowboy. Se o momento era para o romantismo, as baladas cheias de groove de George Michael não faziam feio. Mesmo porque Wonder se mostrava meio preguiçoso em sua sucessão de discos sem charme. A time to love (Universal) chega, portanto, na hora certa, quando os emuladores já se mostram cansados e as pistas de dança, esvaziadas pela histeria tecno, mais afeitas ao suingue esquecido da verdadeira black music. Com 15 faixas e convidados do porte de Prince, Paul McCartney, India Arie e do flautista de jazz Hubert Laws, o novo trabalho não está no mesmo patamar de obras-primas como Talking book, Innervisions e Songs in the key of life. Mas chegou perto.

Já na abertura, Wonder dá o recado em dueto com a cantora Kim Burdell atualizando seu estilo inconfundível. Marcada por uma percussão eletrônica quase afro, If your love cannot be moved promove várias mudanças de ritmo, casando cordas e canto gospel num crescendo envolvente. Costurada pela guitarra do brasileiro Oscar Castro-Neves, Sweetest somebody I know flerta com a bossa nova. Na sequência, Moon blue traz Wonder ao piano e estilo jazzy, o mesmo de How will I know, agora em dueto com a filha Aisha Morris, a mesma que aparecia em Isn’t she lovely, de 1976. E, para ficar tudo maravilha, o cantor tira a famosa gaita do bolso em From the bottom of my heart, canção típica de Wonder – e, como todas as outras, falando da delícia de amar. Só Stevie Wonder pode cantar versos como “do fundo do meu coração/ eu te amo” sem soar ridículo. E todo mundo tem vontade de fazer coro.