Mandrake, o advogado-detetive amante de vinhos portugueses, charutos cubanos e mulheres, não necessariamente nessa ordem, tipinho vagamente inspirado nos heróis de Philipe Marlowe e Dashiell Hammett, foi criado em 1967 pelo escritor mineiro Rubem Fonseca. O personagem voltaria em outras histórias e ganhou seu próprio romance, A grande arte, levado às telas por Walter Salles em 1991. Agora o cara-de-pau e bon vivant chega à televisão estrelando os oito episódios da série Mandrake, apresentada pela HBO aos domingos, às 23h, a partir do domingo 30. O episódio de estréia, A cidade não é aquilo que se vê do Pão de Açúcar, foi tirado do pioneiro O seqüestro de F.A., um dos contos do livro Lucia McCartney. Produzidos pelo próprio canal e realizados pela Conspiração Filmes, os episódios foram dirigidos por Toni Vanzolini, Arthur Fontes, Carolina Jabor, Lula Buarque de Hollanda e Claudio Torres. A supervisão geral coube a José Henrique Fonseca, filho do escritor e autor dos roteiros, ao lado de Felipe Braga e Tony Bellotto, que adaptaram três histórias já existentes e criaram as cinco restantes misturando elementos de vários contos.

O Mandrake de Fonseca é daqueles solitários que vivem em bandos. Assim Marcos Palmeira, escolhido para interpretar o protagonista, quando não está com amigos em um bar, vai se consultar com Wexler (Luiz Carlos Miéle), sócio no escritório de advocacia, e Raul (Marcelo Serrado), tira e confidente, ou atormentar as amantes mais ou menos fixas – a enxadrista madura Berta Bronstein (Maria Luisa Mendonça) e Bebel (Érika Mader), exuberante em seus 18 aninhos. Os cinco atores compõem o elenco fixo que contará semanalmente com inúmeros convidados, como Paulo Miklos, Cecil Thiré, Betty Lago, Evandro Mesquita, Daniel Dantas e Paulo César Grande, entre outros.

Curiosamente, o texto celebrado de Fonseca-pai nunca passou incólume por suas adaptações. Ao escolher o americano Peter Coyote para viver Mandrake em A grande arte, de 1991, o cineasta Walter Salles teve de transformar o advogado em fotógrafo e ianque. Para a televisão, Fonseca-filho optou por criar um Rio de Janeiro escuro, seguindo o padrão CSI, Matrix, 24 horas tão em moda. Ao contrário dos colegas argentinos, que na co-produção Epitáfios usaram e abusaram dos efeitos cedidos pelos americanos, José Henrique optou pela sobriedade em termos de linguagem. Mas nem assim Marcos Palmeira se distingue do cenário.