Na videoinstalação Voracidade máxima, em cartaz na galeria Vermelho, em São Paulo, até 19 de novembro, o visitante é convidado a se deitar em uma cama cercada por duas projeções simultâneas. Ao aceitar entrar no jogo, ele é automaticamente lançado para dentro da obra através de espelhos instalados no espaço. O lugar reproduz um quarto de motel, onde o público assiste à documentação de uma série de entrevistas feitas pela dupla Maurício Dias & Walter Riedweg com chaperos, garotos de programa do bairro de prostituição de Barcelona. Mas o que o visitante assiste não se parece em nada com as entrevistas que vemos todos os dias na tevê. O que ele tem diante de si é um jogo de espelhos, em que o artista-entrevistador se veste da mesma forma que seu entrevistado – com robe branco – e o chapero entrevistado usa uma máscara idêntica ao rosto do entrevistador. “A máscara é usada para aproximar a identidade do prostituto com a do cliente e o espelho é uma metáfora que usamos muito. Não o espelho que rebate, mas o espelho que refrata diversas óticas. Nosso ativismo é tentar reinserir a complexidade da vida”, diz Maurício Dias.

O espelho é uma das portas de acesso para a obra do brasileiro Maurício Dias, 40 anos, e do suíço Walter Riedweg, 50, que há mais de dez anos trabalham com os “papéis” desempenhados por policiais, políticos, meninos de rua, prisioneiros, imigrantes, porteiros, etc. “A maneira como uma identidade cultural se relaciona com outra nos interessa muito. A gente acredita que a realidade pode ser transformada, a partir de mudanças nas relações entre os corpos que compõem a sociedade”, afirma Dias. Em seu ativismo artístico-social, Dias & Riedweg se servem de diversos dispositivos – teatrais, documentais, plásticos, sensoriais – para construir seus filmes e videoinstalações, que participam de bienais e são financiados por grandes instituições, como o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. “São técnicas que usamos para abrir brechas no falar. Porque o falar, muitas vezes, é uma repetição de fórmulas. Não é difícil conseguir isso; é como fazer uma massagem”, conta Riedweg, que foi professor de ensino fundamental e diretor de teatro, na Suíça, antes de formar a dupla de ativismo artístico.


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