Os produtores e importadores de vinhos brasileiros têm feito de tudo para aumentar o consumo de vinho no Brasil – mero 1,8 litro anual per capita. A investida é uma nova embalagem que, tudo indica, vai contribuir para o tão desejado salto de mercado: o bag-in-box. O produto é, basicamente, uma bolsa de um composto plástico flexível ligada a uma torneira especial, que deixa o líquido sair e, ao mesmo tempo, impede a entrada da maior parte de ar, dificultando a oxidação da bebida. Quando a torneira é aberta e o líquido sai, a bolsa encolhe automaticamente e elimina o espaço que surgiria numa garrafa. Por isso, os produtores e a multinacional alemã Scholle, maior produtora mundial de bag-in-box e fornecedora da suprema maioria dos viticultores, prometem que, depois de servida a primeira taça, o vinho pode manter-se conservado por até 35 dias.

Quando sobra vinho, o grande drama é conservá-lo. Na maioria dos casos, a garrafa fechada com a mesma rolha e colocada na parte baixa da geladeira garante o aroma e os taninos da bebida, no máximo, até o dia seguinte. Depois, um aparelho chamado vacuvin pode dar sobrevida de no máximo seis dias. O bag-in-box é uma opção extremamente interessante para quem bebe no máximo duas doses por dia em casa, ou para o comerciante que deseja vender a bebida em taça. Por isso, o bag-in-box de cinco litros do Alto Vale, da Casa Valduga, de Bento Gonçalves (RS), recém-lançado, fez tanto sucesso. Em semanas, a vinícola vendeu 80 mil litros do produto. Empolgados, planejam lançar uma embalagem de três litros com um vinho branco da uva chardonnay. As principais concorrentes gaúchas e do Vale do São Francisco prometem entrar no mercado antes do final deste ano.

É fácil entender o sucesso. “Se você dividir R$ 43 por 25 doses de 200 ml, verá que, a esse custo, cada taça sai por menos de R$ 1,80”, contabiliza Juciane Casagrande, gerente da Valduga. “Isso significa que o vendedor pode colocar mais de 100% de margem e vender uma taça de vinho quase pelo mesmo preço de um suco ou refrigerante num bom restaurante”, completa o dono da vinícola, João Valduga. Há 15 anos, o consumo anual per capita na Austrália era exatamente o mesmo do Brasil. Hoje, é de 15 litros, 52% deles vendidos em bag-in-box. Nos Estados Unidos, uma em cada cinco taças consumidas sai destas embalagens. Até mesmo um especialista exigente como Ciro Lilla, proprietário da Mistral, apóia a investida, desde que direcionada a vinhos de consumo rápido. “Para os bons, os excelentes e os acima da média, garrafa e rolha ainda são fundamentais. Mesmo porque, nestes casos, o ritual faz parte do produto”, ressalva Lilla. “Mas, para o dia-a-dia, apóio a nova versão, que ajudará a fortalecer o mercado.” Enfim, será bom para todos.