Lembrar por aqui da Volvo Ocean Race, a maior prova do iatismo mundial, uma volta ao mundo em sete meses, de 31.250 milhas náuticas (57.875 km), realizada a cada quatro anos, significa antes de tudo pensar em Brasil 1. Nada mais natural. Fala-se afinal do primeiro barco na competição com a bandeira do País, pronto para largar, no próximo dia 5, para a prova in shore (em raia delimitada) em Sanxenxo, na Espanha, com seis brasileiros entre os tripulantes, entre eles Torben Grael, um dos maiores navegadores do mundo, dono de cinco medalhas olímpicas, duas delas de ouro. A surpresa, inclusive para muitos amantes da vela, é que esta fantástica fórmula 1 dos mares, disputada por veleiros de 70 pés (21,3 m) de comprimento, 5,5 m de largura, até 500 metros quadrados de área de velas, tripulação de dez pessoas em alto-mar e capacidade de atingir 85 km/h, apesar das 15 toneladas de peso, terá mais um brasileiro: o carioca Lucas Brun, 22 anos. Ele será proeiro do segundo barco holandês ABN Amro, que terá tripulantes de até 30 anos sem experiência de volta ao mundo. O outro barco, o 1, será tocado por feras calejadas como o neozelandês Mike Sanderson, vencedor da própria Volvo Ocean, quando se chamava Whitbread.

Apesar da pouca idade, Lucas tem um currículo respeitável. Foi campeão brasileiro de Oceano 40.7 e vice de 470 em 2003. Filho de um dos introdutores da vela no País, o bicampeão mundial da classe Soling Gastão Brun, “nasceu” dentro de um barco. Para a Volvo Ocean, foi selecionado pela Amro num “vestibular” com 1.800 interessados em seis vagas, entre eles 120 brasileiros. Foi para a final com mais sete e acabou como o único brasileiro entre os escolhidos. “Nosso barco é um V70 de primeira geração. O 1 tem um desenho mais moderno. Mas estamos dando duro, compensando pesos e otimizando funções. Vamos dar trabalho às estrelas”, prometeu ele da Espanha, em entrevista a ISTOÉ. O velejador não exagera quando fala em trabalho duro. O dia da tripulação começa às oito da manhã com muita musculação. Em seguida, café da manhã balanceado, reunião de avaliação e muito, muito trabalho no barco, até sete, oito da noite. Há boatos de que a administração holandesa, temerosa de deixar a molecada solta na noite, manda os meninos do 2 dormirem cedo, em ritmo de concentração. Lucas ameniza. “Não é assim. Eles estão atentos, mas nos divertimos quando podemos.” Em todo caso, é bom dormir o que puder agora. É certo que, a partir do próximo dia 12, data da largada da primeira e longa perna off shore ocêanica, rumo à Cidade do Cabo, na África do Sul (cerca de 30 dias), as noites de sono farão falta.