O Rio de Janeiro é considerado uma das cidades mais bonitas do mundo, com florestas, mar, montanhas e uma natureza deslumbrante. Isso apesar de já ter perdido muitos dos atributos que extasiavam os visitantes do século XVI, como mostra o livro Baía de Guanabara — biografia de uma paisagem (Andrea Jakobsson Estúdio Editorial, 272 págs., R$ 120), de Eliane Canedo de Freitas Pinheiro. Mesmo sem águas cristalinas — nas quais nadavam cardumes de baleias e botos —, árvores gigantes e os manguezais que a circundavam, a Baía de Guanabara resiste bravamente às inúmeras agressões sofridas em meio ao processo de urbanização do Rio.

O cenário original não existe mais, porém ainda restam a biodiversidade e a beleza fascinantes. O livro conta a história da baía, identifica seus problemas e chama a atenção para os sinais de perigo. É uma declaração de amor e um pedido de
socorro ao mesmo tempo.

A obra é amplamente ilustrada com mapas, desenhos, e comparações entre o Rio antigo e o atual. O fotógrafo Custódio Coimbra, autor das belíssimas imagens atuais, capta línguas negras invadindo as praias e espumas de aparência apodrecida boiando sobre as águas. São as partes visíveis dos estragos feitos pelas enormes cargas de poluentes lançadas irresponsavelmente. “Continuamos coletando esgoto de cerca de 60% das residências e praticamente todo o detrito chega sem tratamento à baía, resultando numa carga poluidora 40 vezes maior do que a existente no final do século XIX”, afirma Jerson Kelman, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eliane diz que o livro pretende “lembrar que a baía vem tentando, ao longo dos anos, adaptar-se a cada nova condição que lhe é imposta” e continuar respirando. Já está mais do que na hora, portanto, de inverter essa situação e assumirmos a tarefa de regenerá-la. Nem que seja pela certeza de que atitudes como essas é que vão garantir nossa própria sobrevivência.


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