É duro admitir que sim quando, de acordo com os especialistas, nos restam outros 29 anos de espera até a chegada do próximo ‘boom’ econômico. A chave de ouro foi 2000, com crescimento memorável de 4,7%. No mesmo período, os países emergentes cresceram 5,8%, a América Latina registrou 4,1%, e o produto brasileiro foi 4,4% maior. Contra este pano de fundo, as estimativas para 2001 e a previsão para 2002 são bem mais modestas: 2,4% de crescimento para a economia mundial em ambos os anos, 4,0% e 4,4%, respectivamente, para o conjunto dos países emergentes, 1,1% e 1,7% de crescimento para a América Latina e 2% em ambos os anos para o Brasil.

A economia americana e a européia cresceram em 2001, respectivamente, 1,1% e 1,6%, e o futuro indica desempenho ainda mais fraco, com 0,7% e 1,3% de crescimento em 2002, mesmo sob a hipótese de retomada da economia americana já a partir do segundo trimestre, calcada no pacote fiscal parrudo em vigor, uma política monetária expansionista e, de quebra, um petróleo com preço internacional baixo. No Japão, se 2001 foi ruim, com queda de produto estimada em 0,6%, 2002 traz perspectiva ainda pior: novo encolhimento de cerca de 1%.

A inflação, por outro lado, não será um problema em 2002, o que nos leva a um cenário de juros internacionais em queda, apesar da resistência do Banco Central Europeu, seja por Maastricht, seja porque a percepção é de que as coisas não estão tão mal assim. Juros internacionais mais baixos, contudo, não garantem crédito farto aos emergentes; a confiança nestes é restrita, e os recursos para financiar suas despesas serão escassos. Em especial para os países mais endividados ou que não tenham implementado as reformas estruturais desejáveis e nem sequer as têm como perspectiva.

O centro das atenções na América Latina é a Argentina; e esta não é notícia alvissareira. O Brasil sofrerá repercussões negativas, restritas na melhor das hipóteses ao comércio bilateral, tendo em vista que a Argentina responde, em média, por 12% das exportações industriais brasileiras.

A economia brasileira começa 2002 com freio de mão puxado e deverá acelerar ao longo do ano, sentido contrário ao que se viu em 2001. Melhor assim, ladeira acima. A grande discussão está no desempenho da indústria em 2002: as estimativas variam desde 0% até 3%. Mesmo para as previsões mais otimistas, e este é o meu caso, o ano será difícil para uma grande parte das empresas do setor industrial: a volatilidade dos mercados continuará presente, pautada pelos fatores externos e pelo reforço das incertezas de um ano eleitoral. O sistema tributário segue sendo perverso, e as condições de crédito interno – única fonte de financiamento para a maioria das empresas brasileiras – são muito apertadas e caras, mesmo com juros nominais básicos caindo para 17% até fins de 2002 e inflação pouco acima da posição central da meta de 3,5%.

Acredito que o Brasil tem espaço para um spread de risco menor no mercado internacional, a exemplo do que vem ocorrendo ultimamente. Acredito num crédito internacional mais farto para o Brasil e para as empresas que têm porte para acessar este mercado. Acredito no benefício de um volume exportado significativamente maior, a despeito de preços mais baixos, em 2002, no espaço que há para a substituição de importações, no consumo de bens não-duráveis e semiduráveis, assim como no investimento de forma localizada. Só não acredito em milagre, muito menos sustentável.