Adrian Cowell não tinha cabelos brancos nem opiniões tão firmes quando fez sua primeira viagem à Floresta Amazônica em 1957. Meio século se passou e agora esse historiador, que nasceu na China e ganhou a vida em Londres como produtor de documentários para a rede de televisão BBC, não apenas continua na ativa como se tornou uma das vozes mais fortes na defesa do meio ambiente. Sem embarcar no idealismo de diversas ONGs e ecologistas que pregam a incompatibilidade entre o desenvolvimento e os cuidados com a natureza, Cowell é pragmático: “A floresta pode render muito mais em pé que tombada.” Isso significa que, sem um projeto de zoneamento adequado, a Amazônia, maior cobertura vegetal do planeta, correrá o risco de desaparecer do mapa. E os prejuízos serão maiores que os dividendos gerados hoje pela agropecuária e pelo extrativismo mineral e vegetal, motores da atual devastação. “O desenvolvimento é um fato”, diz Cowell. “O desafio é encontrar uma forma de conciliá-lo com o meio ambiente.”

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia já abriga 22 milhões de habitantes, aproximadamente 14% da população brasileira. Cerca de 70% deles vivem em áreas urbanas, mas seu impacto também é medido no campo e na floresta, onde as plantações de soja cresceram a ponto de fazer do País um dos maiores exportadores desses grãos. A criação de gado também ganhou terreno, e ambas as atividades estão em permanente expansão, flagradas pelos satélites que monitoram as queimadas, principal indicador da exploração econômica. Essas imagens vêm comprovando que os focos de incêndio na floresta estão dobrando a cada três anos.

Dois dos mais renomados estudiosos da Amazônia acabam de lançar nos EUA um balanço das duas últimas décadas de exploração. São eles o advogado Mark London e o jornalista Brian Kelly, ambos americanos. London e Kelly já haviam escrito sobre a floresta no início dos anos 80 e o livro Amazonas: um grito de alerta tornou-se um best-seller mundial ao mostrar que a devastação corria solta e em ritmo acelerado. Cerca de 27 anos depois, eles acabam de lançar a obra A última floresta – a Amazônia na era da globalização, resultado de oito viagens à região entre 2003 e 2005. Veio então a grande surpresa: os autores exibem um cenário radicalmente inverso. “As atividades econômicas, antes consideradas insustentáveis, são viáveis”, diz London.

Há teóricos do assunto que já defenderam a tese de que a Amazônia era o pulmão do mundo – e qualquer atividade exploratória seria incompatível com a preservação da natureza. Esse pensamento começou a mudar quando a arqueóloga americana Anna Roosevelt provou que a Amazônia foi berço de civilizações altamente produtivas antes da chegada dos exploradores europeus. Recentemente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) divulgou uma pesquisa em que atesta essa viabilidade econômica de lavouras desde que respeitadas as chamadas “áreas intocáveis” da floresta, sobretudo a região da Cabeça do Cachorro, a oeste do Amazonas. “O plantio e a criação fazem sentido em zonas degradadas que representam cerca de 40 milhões de hectares”, diz London. Segundo ele, a construção da rodovia BR-319, ligando Manaus (AM) a Porto Velho (RO), seria uma ameaça porque abriria um novo corredor de exploração, mas a recuperação da BR-163 ou da BR-364, que interligam a fronteira agrícola às áreas de escoamento dos grãos, conseguiria casar desenvolvimento econômico com perfeito respeito à natureza.

No mundo globalizado, a comunidade internacional dita regras claras em favor do meio ambiente. As grandes empresas estão cada vez mais preocupadas em preservar sua imagem e no Brasil não é diferente. Estudo feito pelo IBGE mostra que os investimentos ambientais das companhias saltaram de R$ 2,2 bilhões para R$ 4,1 bilhões, um acréscimo de 86%, entre 2000 e 2002. Nessa lista estão, por exemplo, gastos para a aquisição de equipamentos com “tecnologia limpa” e obras para tratamento de dejetos químicos e orgânicos, numa demonstração de que a prática de um capitalismo racional e responsável é saudável porque gera lucros e não arrasa a região.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou a criação de duas linhas de crédito que promoverão uma verdadeira “onda verde”. Pelas novas regras, o banco irá oferecer juros mais baixos aos projetos de preservação do ambiente e já se estuda, por exemplo, a criação da reserva florestal de Carajás, no Pará, onde se situa o maior pólo de produção de ferro do mundo, pertencente à companhia Vale do Rio Doce. “Desenvolvimento e proteção ambiental não são coisas incompatíveis”, diz a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Juntamente com Virgílio Viana, secretário de Meio Ambiente da Amazônia, a ministra pretende ainda criar formas de melhorar a fiscalização da população local na defesa desse imenso patrimônio mundial.