O dia 7 de junho de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff, enfim, promoveu a troca de guarda na Casa Civil, depois de uma longa agonia, será lembrado daqui a alguns anos como o marco zero de seu governo. Antônio Palocci, que prestou bons serviços ao País, mas tropeçou na ganância, representava o passado. Havia sido colocado na Casa Civil não por Dilma, mas pelo antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. E alimentava em boa parte do empresariado a esperança de que poderia ser um primeiro-ministro, um tutor da presidente ou um “fiador” de políticas econômicas ortodoxas – o que, diga-se de passagem, há muito tempo deixou de ser necessário no Brasil, cujas finanças estão em boas mãos desenvolvimentistas. Gleisi Hof­fmann, ao contrário de Palocci, é uma escolha pessoal e direta de Dilma, que não foi submetida nem mesmo ao crivo do PT, o que evidencia, aos poucos, o despertar da autoridade presidencial.

Eleita por uma coligação heterogênea e herdeira da liderança e do capital político alheios, pertencentes a Lula, Dilma não havia conseguido, até agora, moldar um governo com a sua cara. Trouxe ideias e impulsos interessantes, como a redução da miséria extrema, a ampliação dos direitos civis, a inclusão digital e a criação de uma comissão da verdade para desnudar a ditadura, mas são poucos os ministros em Brasíliaque Dilma pode realmente chamar de seus. E, ao substituir o mais poderoso de todos os ministros, a presidente emitiu uma mensagem importante: a bola agora está com ela.

Esse processo de libertação, saudável para o País, foi conduzido de forma extremamente cuidadosa. No auge da pressão em torno do ministro Palocci, Lula desembarcou em Brasília para interferir na crise, sugerir que cargos importantes fossem entregues ao PMDB e dizer que “não se deixa um Pelé no banco de reservas”. Foi uma intervenção precipitada, que ­reduziu a dimensão da Presidência da República – afinal, quem estaria mandando no Brasil? Lula ou Dilma? Seria ela um poste, como se dizia e se temia na campanha?

A presidente, no entanto, teve a sabedoria de não partir para o confronto direto com Lula, que ainda é hoje a principal liderança política do País. Promoveu a substituição de Palocci, há muito mais tempo desejada por ela, apenas quando a situação
do ex-ministro ficou insustentável.

E transmitiu para o público externo a impressão de que continuou sendo leal a Lula até o fim. Em outras palavras, rompeu com o passado, sem promover uma ruptura explícita.

A escolha de Gleisi também sinaliza que Dilma não parece disposta a entregar todos os anéis nas estatais à fisiologia explícita dos partidos aliados, o que inclui o próprio PT. Seu governo estaria frágil se um Palocci cambaleante fosse mantido na Casa Civil, como era o desejo de Lula e da turma mais voraz do PMDB. Agora, com a Casa Civil chefiada por uma ministra forte e diretamente conectada à presidente, Dilma mantém as rédeas do jogo.