No dia 1º de janeiro, em Brasília, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, terá, junto com a faixa presidencial, uma gigantesca torcida para que seu trabalho e o de sua equipe resultem em bons frutos. E todos sabem, principalmente Lula, que a tarefa não será fácil. Por ele aguardam imensos desafios. Ele e seu Ministério terão de tornar o País mais competitivo. Vão ter de enfrentar o desemprego e ampliar o mercado, enfrentar a vergonhosa miséria e atacar a fome. E acabar com a violência impune que acua e apavora a população.

O novo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sabe o que o espera. A morte do jornalista da Rede Globo, Tim Lopes, chacinado pelo Estado paralelo, liderado pelos traficantes de droga, chocou o País e também o futuro ministro. Ele sabe que Elias Pereira da Silva, conhecido por seus amigos de quadrilha como Elias Maluco, foi preso em 1996, acusado de sequestro. O futuro ministro também sabe que o traficante permaneceu preso durante quatro anos, sem que a Justiça se dignasse a proferir sentença em seu processo. Seus advogados, então, impetraram um habeas-corpus alegando que ele, pelo fato de estar preso sem sentença, sofria constrangimento. Se a sentença demorou, o efeito do habeas-corpus foi imediato: em 2000, Elias Maluco foi solto. Pouco depois, em 2002, o jornalista Tim Lopes foi vítima de algo muito mais sério do que constrangimento. Ele foi trucidado. Tim Lopes morreu depois de receber tiros nos pés, ter as pernas decepadas, o tórax aberto e o corpo queimado dentro de um pneu. O autor da barbárie foi o mesmo Elias Maluco, que foi devolvido à sociedade por estar sofrendo constrangimento da Justiça. E tão culpada quanto ele foi a Justiça, que, relapsa, não julgou o traficante.

A incompetência e a lentidão da Justiça – que resultam em impunidade – são as maiores causas de barbáries cada vez mais banalizadas, e o caso Tim Lopes é apenas um exemplo mais veemente. Reconhecemos que lembrar tudo isso é muito chocante. Mas é bom que o seja. E que o ministro faça um bom trabalho é o que toda a sociedade deseja. E exige. O governo Lula tem uma torcida de 170 milhões de brasileiros. Bom governo, presidente! São os nossos votos e a nossa torcida.