A troca do titular da Casa Civil sinalizou para muitos que agora o governo Dilma começou de fato e de direito. À sua imagem e semelhança. Sem tutelas. Nem a de seu mentor e antecessor, Lula, que a constrangeu dias atrás ao desembarcar em Brasília para pilotar ele mesmo uma saída para a crise – tal e qual um mandatário em pleno exercício do poder. Nem a do demissionário Palocci, que incorporava a condição de eminência parda, tido e havido como uma espécie de primeiro-ministro, mandando acima dos demais. Gleisi Hoffmann, que assume, é da cota pessoal da presidente. Traz um perfil mais gerencial e carrega uma missão desidratada das articulações políticas que costumam dar munição ao ocupante do cargo. A virada de estilo na pasta, rumo a um caráter mais técnico, tem a marca clara e indissolúvel da presidente – que, de mais a mais, já esteve na mesma cadeira agora de Gleisi e de lá saiu, direto, sem escala, para a vitória nas urnas. Gleisi e Dilma farão certamente um dueto afinado no estabelecimento de prioridades e na condução de demandas externas. Não apenas porque a escolhida é mais uma mulher – compondo assim o maior corpo de autoridades femininas jamais visto controlando os principais postos da República. Dilma está certamente mais à vontade com alguém que possui trajetória e ideologia parecidas com as suas.

O problema decorrente dessa reconfiguração no alto escalão é a ausência de um personagem com o estofo e o traquejo suprapartidário de Palocci. Com a presidente pouco familiarizada nas artimanhas parlamentares e que não demonstra a menor paciência para entrar no jogo de aliados e oposicionistas, o risco de desintegração da base de apoio é grande. Ao lado de Dilma, o quadro mais visível do governo que traz essa característica e pode exercer o decisivo papel de conciliador é o próprio vice-presidente, Michel Temer. Mas nesse caso se estabelece uma nova discussão: quais as ameaças para Dilma ao ficar refém do PMDB? Como apaziguar os ânimos e conter o fisiologismo atávico da sigla de Temer? A pupila do ex-presidente Lula – a quem ainda devota uma fidelidade canina – já amargou no Congresso uma sonora derrota na votação do Código Florestal. Não pode passar por outra tão breve. Seu maior teste: demonstrar que a emancipação não vai lhe custar caro demais.