Até há algum tempo, o homem preocupava-se pouco com sua saúde. Ir periodicamente ao médico era coisa de mulher. Mas iniciamos o século XXI com o homem no consultório do urologista, preocupado com o câncer de próstata, doença que afeta cerca de 3% da população. E encerramos 2002 testemunhando a consolidação do conceito de saúde sexual, com a compreensão de
que satisfação sexual e qualidade de vida são pilares importantes da saúde.

E, em termos de novas drogas para a
saúde sexual masculina, o ano de 2003 promete, com a previsão de lançamento
do Cialis, do laboratório Eli Lilly, e do
Levitra, dos laboratórios Bayer e Glaxo-SmithKline. Concorrentes do Viagra, esses remédios facilitam a ereção peniana. Porém, a perspectiva mais interessante é a promessa de mudança de postura dos médicos
e profissionais de saúde, da indústria farmacêutica e do próprio
paciente. Mas, antes de passarmos para a perspectiva, deve-se
voltar no tempo. Quando o Viagra foi lançado, em 1998, sabia-se
que as disfunções sexuais masculinas atingiam grande número de pessoas: em 1992, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos classificou a disfunção erétil como caso de saúde pública, tal a sua prevalência. Entretanto, mesmo com o Viagra, remédio efetivo e
seguro, estima-se que apenas de 10% a 16% dos homens que
sofrem com o problema estejam adequadamente tratados.

Por que isso acontece? O paciente não se queixa do problema ao
médico nem o médico se interessa pelo seu diagnóstico. Pelo lado
do doente, o motivo é simples: vergonha. Já o médico não questiona
o homem sobre sua saúde sexual por várias razões: a maioria não recebeu instrução sobre sexualidade humana e, por isso, não se
julga apta para fazer esse tipo de atendimento; as consultas são
mal remuneradas e, portanto, rápidas. Logo, o profissional evita
abordar temas que rendem longas conversas; existem médicos
que ainda consideram a disfunção sexual uma questão de estilo
de vida e preferem concentrar-se em doenças como o câncer.

E o que tem tudo isso a ver com as perspectivas para 2003? Fica evidente que não basta ter remédios para esta disfunção. É preciso educar o paciente e o médico para que o tratamento seja feito. Mas
o surgimento de drogas aumentará o investimento em educação.
Tem-se verificado também maior preocupação com a formação
médica em sexualidade humana. A Sociedade Internacional de
Pesquisa sobre Sexualidade e Impotência, entidade que congrega profissionais da área da sexualidade, da qual fui presidente por
dois anos, desenvolve um currículo que será oferecido às faculdades.

Em outra iniciativa, as sete primeiras escolas médicas americanas que incluíram este tipo de curso em seu currículo, em 2001, apresentarão suas experiências no Congresso da Sociedade Americana de Medicina Sexual, que acontece em janeiro. É importante que o estudante de medicina e o médico saibam que, embora a disfunção sexual não mate, pode gerar sérios problemas, como a depressão. Estudos indicam que o homem com impotência sexual, devido a sua baixa auto-estima, cuida menos de sua saúde, aumentando os riscos de complicações, internações e absenteísmo no trabalho. A disfunção erétil pode também ser indicativo precoce de outros males, como alterações do sistema cardiovascular. Mas, sem dúvida, os novos remédios e a preocupação em educar e prevenir aumentarão o universo dos beneficiados por esses avanços.